Como haveria de ser, a notícia do final da manhã da última quarta-feira, 9 de novembro, caiu como uma bomba: “Morre Gal Costa, aos 77 anos”.
Como assim: morre Gal? Já tinha saído do trabalho e me dirigia ao carro quando olhei, como de costume, o visor do celular. A foto de Gal fez meu olhar se apressar a fim de ler a primeira palavra da manchete: Morre! Tinha visto na Internet que sua produção havia cancelado um show em São Paulo e adiado a turnê em Londres.
A notícia da morte, no entanto, passava muito longe de ser uma realidade próxima. Esse tipo de notícia sempre foi e sempre será motivo de surpresa. Gal Costa estava com uma agenda de shows em pauta, mas mesmo que não estivesse, a notícia de sua morte cairia como uma bomba.
Gal por si só, sem qualquer gesto, sem palco, no íntimo de sua casa, já era um acontecimento. Sua voz cristalina já havia se consolidado no mundo, suas declarações, seu jeito irreverente desde a juventude tropical já eram a cara do Brasil.
Passei a clicar o dial do rádio do carro à procura de informações ou de uma música com a sua voz. Nada! As rádios de João Pessoa ainda não se davam conta da enorme perda desse dia.
Recorri, então, à memória. E como ela foi gentil! Me levou à adolescência, quando ouvi repetidamente o LP Água VIVA, de músicas como “Folhetim”, “Vida de Artista”, “Paula e Bebeto” e “De Onde Vem o Baião”.
Depois, refrões como: “Teco, teco, teco na bola de gude…” tilintavam na minha cabeça. E o que dizer de “London, London” e dos agudos de “Meu nome é Gal”?
Um pouco mais pra frente, vem Gal num forró “Danado de Bom” com Luiz Gonzaga, vem “Vaca Profana” e o grito a la Cazuza de “Brasil, Mostra a Tua Cara”. Gal ficaria ainda mais popular com sua voz na abertura impagável da novela Vale tudo, da Rede Globo.
Ah! Gal, são tantas coisas que não daria tempo de lembrar tudo no caminho…Assim eu seguia no automóvel, rádio ligado, sinal fechado! Foi esse o primeiro impacto que sofri com a sua morte. Nada de encontrar uma única música sua nas rádios da minha cidade, mas com um repertório inteiro na minha cabeça.
E assim cheguei na escola do meu filho, o meu destino desde que entrei nesse carro e liguei o rádio na Doce ilusão de ouvir uma música de Gal.
Obrigado, Gal Costa, pelos Novos Baianos, pelo Tropicalismo, por sua presença e por sua voz, agora apenas nos fonogramas e disponível nas plataformas. Não é assim que se diz? Pois que se multiplique pelas emissoras de rádio em todo o país.
Vozes como a de Gal Costa não podem se perder com o tempo. Se liguem programadores!
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