Homenagear os antigos shows LGBTQIAP+ das décadas de 1980 e 1990: este é o objetivo da Ocupação Noite das Estrelas, que está sendo realizada no Conjunto de Favelas da Maré, Zona Norte do Rio de Janeiro.
O espetáculo é o fio condutor das obras e ações da ocupação que acontece nas ruas, aparelhos culturais e instituições parceiras. Haverá exposições, impressos, exibição de filmes e várias outras atrações para o público.
Os antigos shows Noite das Estrelas atravessam mais de duas décadas de história dentro da Maré e nasceram do convívio e das festas da comunidade LGBTQIAP+ daquela época, chegando até a contemporaneidade. O objetivo do evento é celebrar a memória deste movimento através da linguagem contemporânea, da oralidade, escrita, performance, dança, teatro, audiovisual e outras tecnologias.
A periferia no centro do debate cultural
Idealizado pelo Entidade Maré, a Noite das Estrelas é uma produção estética, artística, cultural, urbana e contemporânea carioca através da ocupação homônima. Pretende festejar e honrar a memória dos shows de 1980 e 1990 como um movimento histórico de produção de conhecimento sobre as artes.
O evento pretende expandir a pluralidade de discursos e a representatividade na produção de conhecimentos não neutros. A produção realizou um mapeamento das potencialidades do projeto e, de forma itinerante, passará pelas ruas da Maré, terminando seu trajeto na Quadra da Escola de Samba Gato de Bonsucesso.
Segundo o diretor Wallace Lino, o objetivo principal da ocupação é trazer a cultura LGBTQIAP+ preta e periférica para o centro do debate sobre arte e cultua da cidade do Rio de Janeiro. “Esta ocupação é um sonho coletivo imanente de celebrar nossos afetos, culturas e existência através das linguagens artísticas. Além disso, contribuir para o acesso material e sensível às programações de artes de públicos diversos, em específico da população da Maré”, explica.
Maré tem movimento LGBTQIAP+ histórico
Paulo Victor Lino, diretor da ocupação, explica como nasce a Noite das Estrelas e seu principal pleito nos espaços públicos, pelas ruas das favelas da Maré. “Os shows nascem na festa junina de Nei, que quis que suas amigas o ajudassem a confeccionar as roupas da quadrilha, tivessem um dia delas no meio da festa. Menga, ao ver o acontecimento, deu o nome ao evento de Noite das Estrelas e esse movimento cultural que, por mais de 20 anos, arrastou multidões para ver as performances das artistas LGBTQIAP+, que traziam em seus gestos, vozes, corpos e movimentos a subversão da ideia e realidade da violência”, explica o diretor.
Ele ressalta ainda que a cultura LGBTQIAP+ encontrava nas ruas a “vingança” e a implementação de novos sentidos de reexistência transgressora para a cultura carioca. “Agora, em 2023, a Ocupação Noite das Estrelas se volta para esta memória perseguindo as filosofias e cosmovisões pretas para contar, através da homenagem desse movimento das décadas de 80, que ele não morreu”, pontua.
“Ela renasce pelo movimento da ancestralidade, pilar das visões das culturas pretas, onde existir em festa neste território onde a morte é deliberada, inclusive pelo Estado, só é possível pelas estratégias e fugas coletivas destas populações. A rua é o lugar em que mora o nosso palco, revolta e revolução”, acrescenta.
Ações culturais da ocupação
A ocupação Noite das Estrelas contará com diversas ações. O espetáculo inédito centraliza a ocupação com temporada até 9 de julho, sempre às 16h, aos domingos, com início no ponto do mototáxi da Rua Teixeira Ribeiro. São seis apresentações, uma com tradução em libras.
A Ocupação Noite das Estrelas contará com a Exposição A Noite das Estrelas uma Galáxia Imorrível, que visa desarquivar documentos fotográficos e compartilhar a história cultural LGBTQIAP+ do território mareense e sua importância para a construção da história da Maré.
Segundo os idealizadores, a exposição será composta por registros da memória dos shows da Noite das Estrelas, impressas e expostas num grande mural na Lona Cultural Herbert Vianna. A exposição permanecerá em exibição durante 1 mês.
O audiovisual também ganha espaço na ocupação com a exibição do filme Noite das Estrelas, que teve sua estreia no Festival Internacional de Cinema Zózimo Bulbul, em 2021. A exibições ocorrerão na rua Sargento Silva Nunes, no Resistência Lésbica e no Instituto Trans, seguido de um debate com as artistas do filme.
Serviço
Ocupação artística Noite das Estrelas
Até 9 de julho – aos domingos
Complexo de favelas da Maré
Início no ponto de mototáxi da Teixeira Ribeiro, esquina com a avenida Brasil – Passarela 19.
Entrada: Gratuita
Horário: 16h30
Duração: 2h
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