OK, Já sei que querem a minha opinião!

Clipe: Ok Ok Ok - Gilberto Gil

OK OK OK OK OK OK, Já sei que querem a minha opinião e eu preciso falar de ódio.  Não espera! Eu preciso falar sobre DESESPERANÇA!

Mais um momento, ainda não é o que eu desejo dizer. EU PRECISO FALAR QUE A ESPERANÇA, VAI VENCER O ÓDIO!

Assim mesmo, em letras garrafais pra nos lembrar que estamos morrendo, mas antes, estamos vivendo por ainda acreditar firmemente que há saídas. Apesar de ainda sermos vistos como os jovens da canção de Charlie Brown Jr., que já dizia: “Eu vejo na Tv o que eles falam sobre o jovem. Não é sério! O jovem no Brasil nunca é levado à sério”, prefiro acreditar que se há 33 anos (1985), o nosso país ainda não contabilizava os votos dos analfabetos para mudar o sistema, hoje são os jovens que se unem e criam esquemas, para que não hajam analfabetos.

O texto de hoje já estava fechado, talvez precisemos falar mais de amor, pensei mais uma vez. Tatuei esses dias a palavra amor, pra me fazer lembrar de que ele cura e nos salva de nós mesmos, mas chovia enquanto eu me reunia com mais outros jovens, bem no centro de Duque de Caxias e porque não  mudar um pouco o rumo do texto de hoje? Pensei mais uma vez.

O tema era justamente esse, falar sobre o ódio que nos consome todos os dias, que era raiva e agora já nos cega a ponto de querer apenas mais sangue e que paguem por todos os nossos que levaram e mesmo meses depois, não nos deram resposta.

O espaço criado embaixo de uma lona, reunia pouco menos de 20 pessoas entre 15 e 30 anos. O convite era mais do que para dialogar sobre a escolha que vamos fazer no próximo mês, era pra começar a entender os sentimentos que estavam invadindo na nossa racionalidade diante do caos onde nos instalaram.

Foi quando uma menina na faixa de seus 20 anos, negra e moradora da baixada fluminense, colocou pra fora um choro entalado. Foi colocando tudo, como se vomitasse cada palavra e nela o peso da dor e da ausência que lhe foi imposta sem aviso pŕevio.

“ Penúria, fúria, clamor, desencanto
Substantivos duros de roer
Enquanto os ratos roem o poder
Os corações da multidão aos prantos”

Como falar de amor, como amar em um país que mata jovens negros todos os dias? Como dialogar sobre esperança em um país que perde alguém por suicídio a cada 45 minutos. Aos 15 anos deveríamos estar explorando as possibilidades de ser feliz e aos 29 além de continuar vivenciando essa experiência, deveríamos poder escolher quais frutos obter dessas vivências. Mas estamos na linha tênue da desesperança de vida.E parece até não fazer sentido, os jovens que estão mudando tudo, também não estão mais aguentando o tranco.

É preciso Sagacidade pra viver. Lutar, cair, crescer, sem arriar ou se render tem que defender.”
Ah! Iza, nos diga então, como nutrir essa sagacidade se cair parece mais frequente do que crescer?

Me lembrei de uma atividade que fizemos no Complexo do Alemão (EDUCAP) no último dia 8 de Setembro sobre o Setembro Amarelo, onde todos nos abraçamos sem brechas na roda e se alguém demonstrasse sinal de cansaço e começasse a fraquejar, a roda lhe sustentava.

Sempre vão tentar nos desestabilizar e essa máxima nos é colocada desde sempre, bem lá atrás onde o “senhor de engenho” enviava “um dos nossos” para nos capturar. É assim, minam por dentro pra nos colocar fora do jogo. Disseminam o ódio em nós, contra nós mesmos para tirarem nossas estruturas e é preciso que continuemos juntos sendo apoio um do outro com mais pluralidade e coletividade.

Em um diálogo com um vizinho esses dias, tentava refletir junto com ele algumas escolhas e ele me apontou firmemente que as liberação de armas no nosso país resolveria tudo e ao questionar como, ele me disse que se sentiria mais seguro.

Olhei bem nos olhos dele e disse: Do outro lado alguém pensa o mesmo que você e talvez se sinta ameaçado pela minha presença, como mulher negra ou pelo seu filho, um menino sem camisa na rua a noite, correndo após o jogo de futebol. Talvez essa pessoa também queira proteção e você não estará lá para defender os que ama.

É urgente entender que as nossas escolhas interferem além das nossas individualidades e que ao pensar que é sobre a vida do outro e sobre ela não temos responsabilidade, estamos corroendo a nossa própria rede de proteção.

No final das contas, é o amor que precisa vencer o ódio que nos cega e nos impede de ver além de nós mesmos. Assim mais nutridos, a esperança nos fortalece e quebra o desamor que NUNCA foi nosso, nos foi enfiado garganta abaixo.

Sei que não dei nenhuma opinião
É que eu pensei, pensei, pensei, pensei
Palavras dizem sim, os fatos dizem não.”

#Elenão!