Costumo falar aos meus amigos do “asfalto” que a favela é para mim o lugar mais seguro da cidade, quando a polícia não entra obviamente. Em condições normais, de temperatura e pressão, o Jacarezinho, por exemplo, não tem: roubo, sequestro, atropelamentos, batidas de veículos com feridos, assassinatos, bala perdida, estupro etc. Até os casos de feminicídios são em número bem menor do que se você analisar o de uma cidade com 50 mil habitantes, que é a estimativa populacional da favela.
A favela só se torna um local perigoso para se viver em dias de operação policial, já reparou nisso? Todo mundo corre pra dentro de casa! O medo da bala perdida, do caveirão, do esculacho, da execução entre outros nos reprime.
Fora isso a molecada está jogando bola até as 2 da manhã na rua, as meninas estão passeando pra comprar açaí, a igreja está com som alto, a senhora da esquina está no portão vendo quem passa… a favela vive as 24 horas do dia sem sustos. Basta não ter polícia.
Isso me fez refletir essa semana, a gente vive em uma cidade tão desigual, tão rachada, um apartheid social tão grande, que, aqui até o conceito de “sentir-se seguro” é relativo e tem definições diferentes a depender do seu CEP.
Qual favelado nunca se sentiu mais apreensivo por estar no mesmo local em que uma viatura da polícia militar? É fato que a polícia militar para a gente representa perigo. A instituição que nasce com a missão de proteger a população é que assusta e apavora todo um grupo específico. O Rio de Janeiro não é pra amadores!