ONG no Morro do Batan, no Rio, realiza trabalho de suporte a crianças vítimas de abuso sexual

Muro da ONG Amigos da Caridades pela instituição - Foto: Arquivo Pessoal

Agnes Ribeiro Gomes de Jesus, 34 anos transformou a dor do abuso quando tinha sete anos de idade, em superação. Resignificou sua história e fundou, na mesma casa onde sofreu o crime, no Morro do Batan, Zona Oeste do Rio de Janeiro, a ONG “Amigos pela Caridade”.

O projeto foi criado com o intuito de oferecer suporte a crianças que passam por situações de vulnerabilidade e violência. “Transformei o lugar triste em lugar feliz que pudesse evitar que outras crianças sofressem o mesmo que eu”, desabafa.

Agnes conta que sua mãe precisava trabalhar e não tinha com quem deixá-la. Neste período de duas horas, em que ficava sozinha, sofria a violência. Mais tarde, fazendo um diagnóstico da comunidade, percebeu que outras famílias enfrentavam o mesmo problema. A falta de rede de apoio a mães que criam seus filhos sozinhos e precisam trabalhar, os deixava mais suscetíveis a ocorrência do abuso.

Rede de apoio no Morro do Batan

Hoje, com 15 anos de instituição, Agnes avalia o impacto positivo da ONG na favela em relação a ganho de autonomia pelos moradores e frequentadores. O que no início realizava apenas a distribuição de cestas básicas em datas comemorativas, se expandiu e virou um espaço de atividades diárias para as crianças e escuta e oportunidade para as mulheres.

Famílias foram apoiadas também durante a pandemia – Foto: Arquivo pessoal

O projeto tornou-se parte de uma rede de apoio a quem sofre violação de direitos, principalmente o abuso sexual. “Nosso foco são crianças e adolescentes, porém cuidamos também da família. Entendemos que se não cuidarmos da família não conseguiremos ter um resultado com a criança”, esclarece Agnes.

Com a paralisação veio a proteção

Na pandemia, os atendimentos sociais, palestras e atividades organizados pela instituição foram suspensos, mas, o grupo não parou de trabalhar. A atuação passou a ser a de conscientização da população sobre o novo coronavírus e na distribuição de materiais de proteção, como álcool em gel.

Além disso, Agnes conta que os voluntários observaram que, durante a quarentena, muitas mães estavam alugando seus filhos para ficar nos sinais de trânsito por 50 reais para conseguir comprar alimento e até drogas. Para evitar perder as crianças para o trabalho infantil, eles também passaram a oferecer alimentos e orientações para interromper esse ciclo de violação.

Ação promovida pela ONG durante a pandemia – Foto: Arquivo Pessoal

Agnes acredita e vislumbra mudanças desde que a ONG passou a atuar na região, mas tem uma visão realista e afirma que esse é um trabalho de formiguinha. “As crianças entravam nas atividades se sentindo oprimidas, agora elas se soltam mais e vem até nós quando sentem alguma dificuldade. Elas falam! Para elas é um local de apoio”, acrescenta.

Uma casa de oportunidades

De acordo com a fundadora, a violência doméstica sofreu um grande aumento na região. Realidade essa próxima de mulheres, que hoje são voluntárias da ONG após chegarem até a casa pedindo ajuda.

Agnes, fundadora da ONG Amigos da Caridade – Foto: Arquivo Pessoal

Com uma liderança toda feminina, Agnes explica que um dos propósitos da casa é apoiar as mulheres, pois, “apoiando uma, todas se tornam mais fortes”. Além disso, de acordo com ela, essa configuração facilita que as vítimas desabafem e falem sobre seus problemas. “Não acabei com abuso e nem com as violações e nem vou conseguir acabar, porque, infelizmente, não depende só do nosso trabalho. Mas, diminuir índices, sem dúvida conseguimos!”, expressa.

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