Pés descalços em meio ao esgoto das vielas
Barrigas subnutridas carregadas de vermes
Por vermes ofertadas aquela condição subumanas
Humanidade má
Cada vez mais desprovida de fé
Esperanças sendo erradicadas pelas atitudes daqueles que outrora enxergamos como a real esperança modificadora
Como um super herói com o rosto colado ao vidro de um coletivo super lotado
Seguia aquele humilde coitado semianalfabeto
Carregando a dor e a fúria de ser pilar de sustentação de um sistema que não dava a real condição
Tentava alcançar com suas vistas turvas pela ausência de saúde oftalmológica
Uma luz no horizonte onde os seus fossem mais longe
Onde fossem além do mal e do bem
Além da fome e da miséria
Além das guerras internas e cruéis
Que negavam o resgate das suas simplórias identidades
Amargava-lhe a garganta como fel saber que o pão deixado sobre a mesa era insuficiente
Que os sacrifícios eram vão para modificação real
Sim, era foda ouvir sua senhora buscar na medicina natural a cura para suas mazelas
Pois recursos para medicamentos sempre faltariam a ela
Era praxe a humilhação e o subjugamento
Que esmagava sentimentos e arrancava-lhe diariamente parte de sua alma sofrida
Amargurada por uma vida que negava-lhe oportunidades
E no regressar do dia onde os covardes haviam como sanguessugas grudado sobre seu lombo e alimentando-se do seu suor ainda conseguia crer que o amanhã poderia ser melhor
Da soleira da porta via suas crias frente a televisão
Assistindo uma rede de TV infectocontagiosa transmitindo-lhe o vírus da burrice e da alienação
Ao som daquela antiga caixa falante ouvia aproveitadores falarem em ofertar lhe uma vida melhor
Gerando-lhe um questionamento interior:
O que seria de fato uma vida melhor?
Ainda olhando para sua cria ele via a caixa falante transmissora de imagens covardes encerrar o horário político
Sentado a soleira da porta observava a conversa da sua prole;
O seu mais velho sonhava e dizia a seus irmãos que seria jogador de futebol,
O caçula com a música sonhava
O do meio apenas ria como se tudo aquilo fosse só piada
E num entristecer da face aquele escravo da lida diária percebera que seu filho do meio não sonhava porque até isso haviam arrancado dele
Era a hora do desligar das luzes
E do colocar do corpo sugado pela exploração burguesa sob uma cama sem conforto
Mas não antes de colocar sob a mesa uma cesta de ovos, pão e manteiga e dela não compartilhar
Dormir com fome para os seus sustentar
Repousar o corpo sobre a cama sem conforto e preparar a necessária resistência física e emocional para o dia seguinte
Onde dezenove de fato não seria vinte
Mas aquele parcialmente ignorante senhor pensava em voz alta enquanto no coletivo lotado mas uma vez seguia:
– Outubro vem ai….
Motumbá adupé Olorum
Sergio Carvalho
Sócio CEO
Afroparceiros produções culturais
Um novo lema em cultura negra