Rocinha, Complexo do Alemão, Santa Marta e Maré são algumas das comunidades que receberam ações feitas por instituições públicas e privadas
Até o fim de outubro, favelas do Rio de Janeiro contabilizavam cerca de 18 mil casos confirmados e mais de 2.200 vidas perdidas para o novo coronavírus, segundo o Painel Unificador Covid-19 nas Favelas do Rio de Janeiro. O painel reúne dados de 72 favelas e complexos da Região Metropolitana (185 favelas individuais) levantados por coletivos periféricos e organizações da sociedade civil, e conta com relatos dos próprios moradores, que respondem a formulários sobre a doença. Desde julho, o Painel Unificador busca novas fontes de dados favela por favela, sejam públicos ou de relatoria local.
O Painel Unificador revela que a negligência do Estado provoca subnotificações de casos da Covid-19 nas favelas. E como entidades de saúde do governo não ofereceram testagem em massa, coletivos, instituições e iniciativas privadas vêm disponibilizando gratuitamente testes de Covid-19 para os moradores das comunidades.
A favela da Rocinha foi uma das primeiras a receber uma dessas ações, em abril, realizada pelo coletivo “Favela sem Corona”. Na primeira fase, foram feitos 100 testes rápidos. Recentemente, entre 5 e 10 de outubro, a campanha “Bora Testar Covid” realizou mais 300 testes rápidos em pessoas que tiveram contato com o vírus nas três semanas anteriores.
Elas foram identificadas por enfermeiros e técnicos de enfermagem por meio de uma pesquisa de porta em porta para avaliar sintomas e contato prévio com a doença. Caso consiga financiamento, a iniciativa pretende fazer a testagem também em Rio das Pedras.
Dados do Bem
No Complexo do Alemão, a testagem gratuita foi feita graças a uma parceria entre a Cruz Vermelha, a ONG Voz das Comunidades e o Dados do Bem, projeto de monitoramento epidemiológico desenvolvido pelo Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino e pela empresa Zoox Smart Data.
Para realização do teste, o morador tinha que baixar o aplicativo Dados do Bem, se cadastrar e responder a um formulário informando se teve ou não sintomas da Covid-19. Dependendo da necessidade de realização do exame, o agendamento era marcado.
A ação aconteceu de 18 de agosto a 9 de outubro na Vila Olímpica Carlos Castilho e contou com cinco mil testes disponibilizados, dos quais 2.376 foram utilizados. Desse total, 577 tiveram resultados positivos.
Segundo Camila Coimbra, responsável pela comunicação do Dados do Bem, cada pessoa que teve o resultado positivo para o vírus indicava outras cinco com as quais teve contato para que elas também fizessem a autoavaliação. “Dessa maneira, a iniciativa consegue acompanhar melhor a disseminação do vírus e mapear os grupos de provável infecção”, explica.
Entre 1 e 9 de outubro, foi a vez da favela Santa Marta receber a iniciativa. Dos 697 testes realizados, 167 deram positivo. Já a ação na Maré, que faz parte do Conexão Saúde – uma parceria entre Dados do Bem, Fiocruz, SAS, União Rio -, realizou 2.774 testes sorológicos e PCR, sendo 312 positivos entre 24 de julho e 19 de outubro. Além dessas comunidades, no fim de outubro mais uma operação foi iniciada, desta vez no Complexo de Manguinhos.
Prefeitura do Rio
A prefeitura do Rio também vem realizando testes nas comunidades. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), já foram realizados mais de 11 mil testes em 12 locais: Realengo; Campo Grande; Rio das Pedras; Cidade de Deus; Rocinha; Maré; Mangueira; Complexo do Borel; Jacaré; Jacarezinho; Santo Cristo e Gamboa. Até o fim de novembro, outras 19 comunidades serão alcançadas pelo estudo da prefeitura, com testagem de 20 mil moradores.
A SMS informou ainda que aplicou 46.834 testes RT-PCR, que identificam o vírus ativo no organismo, e 75.324 testes rápidos na atenção primária e em ações de rastreamento da transmissão do novo coronavírus. No entanto, esses números de testagens são muito baixos se comparado à quantidade de habitantes nesses territórios. Segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há mais de 1,3 milhões de pessoas vivendo nas mais de 750 favelas da cidade.
Vale reforçar que a prefeitura mantém testagem rotineira nas clínicas da família e centros municipais de saúde para pacientes que apresentaram sintomas de síndrome gripal há mais de oito dias e para profissionais de saúde, educação e segurança pública independentemente de terem tido sintomas. Portanto, quem se encaixa neste quadro, pode se dirigir à clínica que atende seu território para fazer um teste.
Complexo do Alemão
Período: 18 de agosto a 9 de outubro
Moradores testados: 2.376
Resultados positivos: 577
Santa Marta
Período: 1 a 9 de outubro
Moradores testados: 697
Resultados positivos: 167
Complexo da Maré
Período: 24 de julho a 19 de outubro
Moradores testados: 2.774
Resultados positivos: 312
*Matéria originalmente publicada no jornal A Voz da Favela de novembro.