A cidade capital da Colômbia há uns dias celebrou seu aniversário. São 475 anos, tem milhões de histórias, a maioria ainda não se conhece e não vai ser conhecida, porque a História só narra a história oficial dos pães da independência, das elites e dos grandes personagens e não das pessoas que vão à pé. A memória só pode se conservar quando o povo tem a capacidade de não esquecer seus acontecimentos, mas este não é o caso, aqui só se lembra do que a mass-media (meios de comunicação) quer.
Um jeito para dar reconhecimento às histórias que as pessoas do comum, as pessoas da favela querem dizer, é através da pintura, dos murais, da arte da rua. Esta é a representação que tiveram alguns artistas urbanos na celebração dos 475 anos da cidade; e é à história urbana, a qual se dedica este artigo.
Os Grafiteiros são na sua maioria jovens de ingressos baixos que optam pela denúncia social através dos muros que ficam mortos nas ruas, pontes e casas abandonadas. Eles, em sua maioria, deixam sua senha com cores vivas quem significam o sentido do seu pensamento, da visão da realidade na qual vivem.
É importante dizer que a manifestação do grafite é também uma manifestação em geral da juventude. Um estudo da configuração da política pública de juventude na cidade de Bogotá revelou que uma ampla noção do jovem estabelece uma visão desqualificadora deste pelos adultos (pessoas maiores de 26 anos segundo a legislação colombiana), na medida em que os atos dos jovens são qualificados como atos de imaturidade. Porém, em resposta a maioria das pessoas que falam mal dos jovens, estes tem feito mobilizações, ações politicas e culturais.
Os jovens consideram que o presente é ruim na medida em que os adultos que no passado foram jovens, não fizeram nada para que o presente fosse melhor. Uma boa ideia de que os jovens conseguiram recusar a visão do grafite como um ato de vandalismo e imaturidade foi a realização de murais e atos culturais nos 475 anos de Bogotá. A prefeitura deu a possibilidade de intervir em uma das estradas principais da cidade: “Av. Dorado” ou “Av. Jorge Eliécer Gaitán” (estrada pela qual chegam os estrangeiros e vai desde o aeroporto até a cidade). Com uma convocatória aberta, foi possível para muitos coletivos e grafiteiros se apresentaram para obter o pressuposto e materiais para que fizessem murais em múltiplos prédios, muros e pontes da estrada.
Um dos grandes projetos de intervenção foi feito no centro da cidade. A inspiração deste foi uma fotografia publicada pelo jornal “El Tiempo”, onde ficam dois habitantes da rua, no Bronx, dando um beijo no chão. “O beijo dos invisíveis” é o nome deste mural feito pelo coletivo de grafiteiros “Vertigo Grafite”. O projeto teve um orçamento de 24 milhões de pesos colombianos (perto de 24 mil reais) e constitui o maior grafite que tem a cidade.
A prefeitura deu a oportunidade de participação dos coletivos de grafiteiros, permitindo uma boa chance de mostrar as capacidades e talentos dos jovens e refletir sobre a importância dos artistas urbanos na construção da convivência na cidade.
O grafiteiro morto
Esta é também a oportunidade para semear o testemunho da injustiça de que foi vítima um jovem grafiteiro de Bogotá no ano de 2011, quando foi morto pela polícia depois de ser surpreendido fazendo um grafite. Após uma perseguição, uns policiais bateram com uma arma de fogo nas costas de Diego Camilo Becerra e cena do crime foi posteriormente alterada para que não fossem responsabilizados.
Os coletivos de grafiteiros e a família da vítima, mesmo depois de dois anos de luta judicial e mobilizações sociais, não conseguiram que os policiais envolvidos fossem presos, embora o processo vá bem. No passado 11 de maio, dois policiais foram processados acusados de alterar a cena do crime. Com isto, cerca de cinco pessoas estão sendo processadas pelo crime.