Movimentos sociais se unem contra capitalismo verde e forças d’exceção, nesta quarta, dia 20, na Vila Autódromo e na Candelária
A cidade do Rio de Janeiro está sob tensão. Movimentos sociais, forças de segurança e atores ligados ao governo e ao grande capital se preparam para o grande confronto da “Rio + 20”: as manifestações unificadas desta quarta, 20 de junho, a partir das 8h, na Vila Autódromo, em solidariedade à esta comunidade ameaçada pelas remoções, próxima ao Riocentro, e às 14h, na Candelária, que prometem levar milhares de manifestantes às ruas contra o modelo capitalista de sociedade. “Não engolimos esta retórica da ‘economia verde’ assim como não acreditamos em tigres vegetarianos”, repetem em coro, os representantes de ONGs, sindicatos, ambientalistas, sem terras, entre outros movimentos. A Vila Autódromo fica a cerca de 200 metros do Riocentro, próximo à Av. Salvador Allende e tem cerca de 4 mil moradores. No ato de solidariedade, aos ameaçados pela remoção, estarão pescadores, comunidades indígenas, de favelas, entre outros da imprensa e de ONGs nacionais e internacionais.
Quem acompanha os eventos pelos meios de comunicação privados, não sabe a batalha que vêm sendo travada nos bastidores contra e a favor da garantia do direito à livre manifestação. Da promulgação de leis e decretos d’exceção, que violam este direito, à mobilização de tropas das forças militares, não só para garantir a segurança dos ‘chefes-de-estado’, mas também, afirmam os movimentos sociais, para nos impedir de expressarmos as contradições do atual modelo de cidade global-capitalista: as remoções forçadas e a violação do direito de moradia dos mais pobres, a farra das grandes empreiteiras regada à corrupção, também justificadas pelas urgências na entrega das obras, a aceleração dos processos de degradação ambiental em países ‘emergentes’ como o Brasil, também relacionadas a um quadro gravíssimo de violências institucionalizadas, sucateamento e privatização da saúde e da educação.
Segundo relatos de militantes da Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência, em reunião ocorrida na última semana, no Batalhão de Choque da PM, seu comandante, o tenente-coronel Fábio Almeida, afirmou que recebeu ordens do governo para impedir o acesso dos manifestantes a determinados locais escolhido para as manifestações, principalmente no caso da Vila Autódromo, por sua proximidade com o Riocentro. Conforme o secretário de segurança José Mariano Beltrame, foi feito um mapeamento das áreas da cidade em que as manifestações não seriam permitidas, nas proximidades de embaixadas e consulados, entre outros não especificados. O anúncio deste mapeamento foi feito em um debate promovido pelo governo do Estado após o início da Rio + 20, no dia 14 deste mês, no Parque dos Atletas, no Recreio dos Bandeirantes, bem próximo à Vila Autódromo. Acontece que algumas destas manifestações já vem sendo organizadas a alguns meses e já foram notificadas à PM bem antes deste anúncio.
A coordenação da Cúpula dos Povos, no entanto, têm se mobilizado para garantir o direito de livre manifestação, através da organização de uma rede de advogados de todo o país e de contatos permanentes com todos os órgãos responsáveis pela garantia da democracia no país: tribunais, órgãos da magistratura, comissões legislativas, órgãos de comunicação entre outros têm sido acionados e têm se prontificado a zelar pela garantia do direito. “Vimos conversando com o Comando Militar do Leste, responsável pela mobilização das forças armadas na Rio + 20, para garantir nosso direito de manifestação”, afirma um dos representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Marcelo Durão.
Às vésperas da Rio + 20, a presidente Dilma Roussef lançou, juntando empresários e sindicatos dos trabalhadores do setor sucroalcooleiro (cana-de-açúcar), um selo que visa certificar a ‘sustentabilidade’ dos grandes latifúndios do setor. O representante da Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), no entanto, Antônio Lucas causou constrangimento ao afirmar que, como o acordo, os trabalhadores conquistarm o direito à marmita mas ainda reivindicam o direito ao conteúdo da marmita, ao alimento.
“A prioridade dos governos é dialogar com grandes empresas e grupos econômicos, enquanto a população atingida, que vive no dia-a-dia os impactos, ameaças e violações de direitos, resultantes desse modelo de desenvolvimento, é usada apenas como alegoria. O verde de que querem pintar o capitalismo também é o verde da ditadura, dos tempos d’exceção, pois o fosso das desigualdades está se ampliando e a única forma de manter as aparências é pelo uso da coerção”, afirma Marcelo Edmundo, da Central dos Movimentos Populares (CMP).
O professor do Instituto de Pesquisas de Planejamento Urbano e Regional, Carlos Vainer concorda: “o capitalismo têm produzido territórios de exceção, e o atual modelo de cidade global, dos megaeventos internacionais, têm oficializado isto como cidade de exceção.