Eis que você está na sua casa tranquilamente, ou andando pela vizinhança e começa a ouvir um som distante: “A galinha chorou!! 30 ovos por 10 reais!!” Aproxima-se então uma Kombi ou um Uno aberto e com um alto falante, trazendo um grande estoque para quem quiser comprar aquele produto. Essa cena não é nada incomum e você sabe muito bem do que estamos falando. Os carros do ovo são uma marca registrada do nosso cotidiano e, mesmo irritando alguns com o barulho, tem uma utilidade sem igual e ajuda muito mais as pessoas do que atrapalha.
Amando-o ou odiando-o, quem não sentiu falta deles durante a greve dos caminhoneiros, que ocorreu no meio desse ano? Memes se espalharam pela internet sobre a importância do carro do ovo, que estava sendo notada naquele momento. O discurso do tipo: “Não deu valor antes, agora me perdeu”. Quando eles reapareceram nas ruas, foram motivo de comemoração.
Mais do que comércios ambulantes, eles se tornaram ícones do nosso país, e muitos afirmarão que toda rua digna tem de ser rota de um carro do ovo, no mínimo. Elementos assim nos confirmam como um país diferente de qualquer um, por contar com essa mágica incessante da cultura popular. Essa não nos permite depender apenas de supermercados e grandes redes comerciais para adquirir mercadorias, mas também ainda viver um pouco de soluções caseiras, literalmente.
Dá para ir mais longe, e falar do carro do pão, a moto do gás, até o vassoureiro que vai a pé e resiste ao tempo. São o que podemos chamar de carros do povo. Esses comércios resistem porque ainda temos a necessidade de um contato pessoal, uma relação de confiança de longa data com alguém que vende algo bom e barato, livre de “gourmetizações” da indústria. Isso é bem mais forte nas nossas favelas e comunidades do que em áreas nobres. A relação comunitária é movida a uma familiarização com tudo isso. Os carros do povo não podem parar de rodar.