Carregando consigo bastante dendê, a Bahia segue sendo o estado onde a culinária é um dos destaques gastronômicos. Repleto de ancestralidade, mulheres afroempreendedoras se reinventaram usando diferentes dotes culinários, antes e depois da pandemia, que obrigou muitas delas a começar um negócio.
Um exemplo de antes da covid-19 é o de Milena Albergaria. Ela começou empreender em 2016 ao lado do companheiro, por conta do desemprego. Ela carrega uma bagagem afrodiaspórica familiar: aprendiz dos pais, a Rasta, como também é chamada, tem um currículo bastante rico na culinária baiana.
“Meu pai era baiano de acarajé em Santo Amaro, e quando ia passar as férias lá, o ajudava. Aí eu aprendi a fazer coisas de tabuleiro”, conta. A partir das receitas do pai, Milena começou a se reinventar na cozinha e deu início à produção de diversas comidas criadas por ela, com o toque especial do pai.
Um dos pratos é o abará, massa feita de feijão, que é cozida na folha de bananeira.
“É uma receita exclusiva que eu desenvolvi a partir da receita de meu pai, receita que era de minha avó. Todo mundo fazia na família e eu desenvolvi”.
A tradição passada entre gerações leva a mais pedidos e o tabuleiro de Milena faz tanto sucesso que, hoje em dia, ela participa de feiras voltadas para a culinária baiana, onde pode mostrar comidas diversificadas e, no bom sentido, viciantes.
Muito além dos pratos tradicionais
Nem só de azeite vivem os baianos e as baianas: Vanessa Luz, 31 anos, está aí para comprovar. Moradora de Matatu, periferia de Salvador, ela e seu marido Márcio fundaram um empreendimento de geladinhos alcoólicos, que se tornou a maior renda da família – geladinhos são sorvetes embaladas em sacos plásticos, mas, neste caso, o diferencial é o toque alcólico.
Pedagoga por formação, Vanessa e Márcio, que é artista visual, tiveram a ideia de darem início as vendas de geladinhos alcoólicos no carnaval em 2018 e, desde então, a ideia vem crescendo e se consolidando.
“Depois que passou o carnaval, nós percebemos que tínhamos encontrado um nicho de mercado. Além de nós, só tinha mais uma empresa de alcoólico aqui em Salvador e que não se manteve, então decidimos investir“, afirmou.
Como não eram da ala do empreendedorismo, o casal começou a estudar o assunto e partiram para a nova etapa, que atualmente abriu portas para que a sua empresa fosse reconhecida.
“A gente participou de algumas iniciativas de aceleração de negócios. Nós fomos reconhecidos como startup pela eh Vale do Dendê e participamos de algumas feiras importantes aqui de Salvador”, conta Vanessa.
Feliz com a etapa alcançada dos negócios, Vanessa busca ajuda em cursos disponibilizados pela SEBRAE e conta com a ajuda de outras instituições. Com o conhecimento em alta, a empresa deu um passo a mais na reinvenção e decidiu criar o Universo da Chupada, baseado no entretenimento para eventos.
E, para os negócios não ficarem parados em determinado período do ano, foi criado o Chupada Direto na Goela. “São as chupadas de garrafa que a gente trabalha nesse período de junho a setembro. Pra aproveitar a quebra do tempo, o período de sazonalidade”.
Um empreendimento vegano no agreste baiano
No quesito diversidade culinária, a baiana Rafaela Azevedo, 25 anos, de Alagoinhas, tem a resposta na ponta da língua: pensando no público vegano, ela criou o restaurante Flor de Feijão, de culinária vegetal, no qual reproduz com carinho o melhor da gastronomia baiana.
Sendo um estouro para a população de Alagoinhas, cidade distante a 100 quilômetros de Salvador, o restaurante chama atenção, é um diferencial gastronômico na cidade interiorana, o que se encaixou perfeitamente com o propósito jovem.
“Foi por entender a necessidade de um delivery que atendesse plenamente as pessoas que não comem carne e nem derivados de animais que nasceu restaurante”, conta.
A sua dedicação fez com que seu tempero ficasse reconhecido a ponto de participar de alguns programas como Ajeum, do fundo Agbara e AfroLab Gastronomia, do PretaHub.
Ocupando espaços por direito
Diretamente do bairro de Buri Satuba, em Camaçari, cidade a 50 quilômetros de Salvador, a ativista e chefe de cozinha Rose Braga, 40 anos, tem em seu currículo uma imensa composição de aperfeiçoamentos que inspiram diversas mulheres afroempreendedoras. O lema que ela leva e divulga é “uma mulher empodera outras mulheres“.
“O propósito é valorizar e empoderar mulheres pretas e indígenas através do afroempreendedorismo e do turismo étnico-gastronômico utilizando o viés da economia solidária”, afirma a chef.
Não diferente de Rose, a responsável pelo Dudendê, Renata Lago, 47 anos, vem diretamente da Ribeira, periferia de Salvador, e também é do time do empoderamento de mulheres.
Pelo fato do machismo e do racismo andarem de mãos dadas, elas destacam o desafio que é se manter no comércio como mulher preta e empreendedora.
“A questão da gente sempre ter que mostrar que a gente é capaz sem precisar ter um homem, e ter o respeito das pessoas por sermos só nós, só mulheres, é sempre um desafio”, afirma Renata.
Raíssa Ramos
Esta matéria foi produzida com apoio do Edital Google News Initiative.
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