Na cultura da “verdade alternativa” e suas fake news, o publicitário norte-americano Matt Rivitz, de 47 anos, teve uma ideia brilhante cujo alcance nem ele poderia prever de início: criar um serviço de alerta aos grandes anunciantes na internet para atentarem aos sites e demais mídias sociais onde pagam para divulgar seus produtos e serviços. O alvo principal do negócio, o Sleeping Giants (Gigantes Adormecidos) são os endereços eletrônicos da extrema-direita e os de fake news em geral.
Como primeiro resultado, Rivitz despertou os gigantes dos anúncios, que começaram a prestar atenção aos lugares onde botavam sua marca e seu nome e, em consequência, a maioria cortou a publicidade de sites como Breibart, fundado por Steve Bannon, o mago da campanha eleitoral de fake news do presidente Trump, juntamente com a Cambridge Analytica, esta de mapeamento de perfis, gostos e tendências no Facebook e outras mídias.
O raciocínio do publicitário é simples: grandes empresas anunciam em locais que têm mais visualizações, uma estratégia técnica e óbvia se você pretende difundir seu serviço ou produto ao maior público possível. Então, elas destinam as verbas para a publicidade e recebem relatórios com tantos “views” em cada endereço. Nunca abrem o site para examinar seu conteúdo, daí muitas vezes seus nomes se vinculam a mentiras e falsidades que proliferam nas redes sociais.
Os sites, blogs e outros que buscam sua parte nas verbas publicitárias investem em robôs, bots e muito sensacionalismo sobre fake news, notadamente as políticas. Aqui no Brasil, é sabido que o maior esforço para eleger o atual presidente da república há quase dois anos foi a rede de endereços falsos e a disseminação maciça de fake news para alimentá-los. Da mesma forma, visualizações eram obtidas através de perfis falsos de leitores e apoiadores fictícios, o que habilitava a turma a ganhar publicidade e se sustentar. A roda gira assim.
Rivitz entrou para desmontar o esquema, mostrando ao anunciante que o número de acessos, de views, de likes, não é tudo. Aliás, muitas vezes não é nada porque são uma ficção desde o princípio, mas mesmo que não fossem, quem anunciaria num site defensor da supremacia branca, por exemplo? Esta questão foi introduzida no cenário publicitário brasileiro com a chegada de Sleeping Giants Brasil, que já está ativo e operante.
O maior exemplo, até agora, foi o de um site de fake news da extrema-direita bolsonarista com anúncio do Banco do Brasil, que foi alertado e suspendeu de imediato a veiculação. Não demorou muito para um dos filhos do presidente da república, Carlos Bolsonaro, apelidado pelo pai de “meu pitbull” e mago das mídias sociais dele, telefonar para quem de direito e mandar botar o patrocínio novamente. Um caso para Matt Rivitz começar a entender um pouco da cultura brasileira.