No dia 5 de agosto, todos os olhos do planeta estavam voltados para a abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Depois do fracasso da festa de abertura da Copa do Mundo em 2014, a expectativa de todos era muito grande. Para a minha surpresa a abertura foi bastante positiva. O grande Paulinho da Viola abriu a noite numa execução singela do Hino Nacional já dando sinais de que a abertura seria diferente, com um pouco da nossa brasilidade.

Foi muito importante ver que a cultura afrobrasileira foi bastante citada durante toda a solenidade. Artistas do funk, samba, pagode e da MPB se revezaram entre os bailarinos da Cia Deborah Colker, num belo espetáculo para os olhos e ouvidos. Foi sendo contada a história do Brasil de uma forma rápida e vertiginosa. E, então, a favela é citada e se destaca na programação. Foi incompreensível alguns momentos da performance dos bailarinos acrobatas. Não entendi por que eles pulavam de casa em casa, telhado em telhado. Foi só no dia seguinte que uma amiga teve uma sacada sensacional: os caras pulavam tentando fugir da opressão das UPPs.

Fica cada vez mais claro que, enquanto a sociedade corteja e consome a cultura da favela. (funk, samba, passinho, gírias etc.), essa mesma sociedade vira as costas para o povo da periferia quando acontecem massacres e outras atrocidades cometidas pelo estado. Quer usar o funk carioca em eventos internacionais? Beleza, mas não nos consuma apenas. Vistam nossa camisa. Qual é a posição das pessoas em relação à proibição de bailes funks em comunidades ocupadas militarmente pelo Estado? Qual é a posição dessa mesma sociedade em relação aos milhares de pessoas que moram em favelas da cidade e que foram removidas de suas casas para que a Prefeitura pudesse construir obras nos locais?

Foi bonito ver o nosso passinho na festa. Na hora, me lembrei do DG do Cantagalo, um dançarino com uma carreira promissora que foi interrompida por dois tiros que até hoje ainda não esclarecidos. É preciso que a sociedade entenda de uma vez por todas que o povo que vive em favelas merece o mesmo respeito dos moradores da Zona Sul. Enquanto, na favela, os bailes ainda são interrompidos a tiros de metralhadora, ouve-se o tal funk ostentação e misógino nos clubes e casas no lado rico da cidade.

Não é possível que a parcela privilegiada da cidade não se sensibilize com a luta diária que essas pessoas travam para viver mais um dia com um mínimo de dignidade. Antes o povo da favela cantava: “Eu só quero é ser feliz”. Hoje, eles lutam para se manterem vivos.