Sabe aquele moleque que sonhava fazer um vestibular e entrar para a universidade, se formar e levantar o canudo? Agora está na boca, com uma peça na mão… Em outros momentos, ele também está no bonde que vai às praias da Zona Sul dar uns botes e volta feliz achando que fez uma grande coisa.
Conseguem imaginar onde está aquele jovem que batalhou e acreditou nas promessas dos programas de apoio aos jovens empreendedores das periferias? Pois é, agora, ele está formado nos becos e vielas da vida errada. Ele se graduou para ser matemático do conselho deliberativo “dos assuntos da firma”, se é que vocês me entendem.
A menina que um dia sonhou em ser uma artista de novela, ou ainda quem sabe brilhar nos palcos do mundo, já que ela aqui frequentava as aulas com professores renomados, holofotes da mídia, brilhos e paetês de um futuro desenhado nas cifras milionários que aquela ONG usava para lavar o dinheiro do governador larápio… Sabe onde ela está hoje? Foi trabalhar no calçadão de Copa – às vezes, pedindo, às vezes, se prostituindo, outras vezes, roubando, mas sempre sem perspectiva alguma de melhora, sem um rumo, sem sonhar mais.
E a mãe que suou a camisa para descer e subir o morro levando os filhos nas aulas de música e artes marciais que o governo oferecia sob a luz de lutadores famosos? Hoje, está desacreditada pelos próprios filhos, porque o projeto fechou as portas. Era tudo mentira e ilusório, uma farsa para arrecadar dinheiro para o partido político de quem gerenciava a secretaria responsável.
E os momentos de alegria e euforia que aqueles eventos grandiosos, com artistas musicais que a gente só via na televisão e nos canais glamourosos? Pois bem, eles pisaram aqui e faturaram altos cachês com a chancela de quem diz ser daqui, mas que nunca lutou por nós e que foi embora num piscar de olhos. Os megaeventos de grandes palco e luzes psicodélicas nos trouxeram para a escuridão que estamos vivendo hoje no Alemão e em diversas favelas, pois quem os promoveram hoje nababescamente nada nas grandes cifras de suas contas bancárias. É revoltante saber que o governo os usou de forma consciente para nos roubar, porque cada real investido em festas que nunca deram em nada foi um investimento a menos em algo que poderia ter sido duradouro.
Hoje, estamos assistindo a um declínio total de todo o pouquinho que nós conquistamos. O poder público está nos roubando o que ainda poderíamos chamar de sonho. O menino que queria a Vila Olímpica aberta para praticar esportes e, quem sabe, se tornar um campeão hoje não pode mais sonhar, já que o espaço está fechado. Os sonhos de milhares de alunos que desejavam uma vida melhor através do Caminho Melhor Jovem, um importante e eficiente programa voltado para gerar oportunidades e resgatar a nossa juventude, simplesmente acabaram. Programas de alfabetização como o EJA (Educação de Jovens e Adultos), mantidos dentro de algumas salas do hoje abandonado Teleférico do Alemão, agora também se foram. A vontade de um dia ver a favela toda pavimentada e saneada também nos foi roubado, assim como as cifras milionárias por meio das construtoras que passaram por aqui.
Como teria sido se tudo aquilo que nos fizeram acreditar, tudo aquilo que nos fizeram sonhar tivesse saído do papel e se tornado realidade? Foram muitas as promessas: o alargamento das ruas para os carros transitarem melhor dentro do morro, a Escola Jardim que iria do Inferno Verde até a Av. Itaoca, as outras escolas que viriam em cada base onde foi construído o Teleférico, o Parque Municipal da Serra da Misericórdia, o Bike Parque no campo da Cufa, entre outras coisas. Mas onde está tudo isso hoje?
Roubaram a nossa única chance de sair da situação em que vivíamos. Roubaram os nossos sonhos – sim, este governo que aí está. Não reclamem da situação caótica em que a Cidade Maravilhosa se encontra. A culpa é destes governantes, que não possuem nenhum compromisso com o futuro dos seus cidadãos.
Como solução para o pandemônio em que se encontra o Rio de Janeiro, eu sugiro o retorno dos investimentos na educação e no social – mas de forma verdadeira, não como maquiagem de programa político eleitoreiro. É preciso haver ações eficazes, com pessoas comprometidas com a sociedade. Chega de verbas partidárias ou ONGs midiáticas e de fachada! Temos que buscar exemplos de pessoas verdadeiramente sérias, que se doam em prol de seus territórios e que querem transformar em vez de lucrar com a desgraça alheia.
Um outro ponto que ainda pode ser revisto é a melhoria básica e mudança da infraestrutura da favela. Isso poderia ser implementado pelos próprios moradores, de forma simples e mais barata, contratando mão-de-obra local, com um administrador local que entenda de obra de favela e faça aquilo que só os pedreiros e mestres de obras dos morros sabem fazer.
Não queremos mais grandes construtoras aqui. Não queremos mais grandes eventos aqui. Não queremos mais ninguém que diz ser a nossa voz. Não queremos mais que o dinheiro que poderia ser utilizado para resgatar 100 ou mais jovens vá para o bolso de apenas um. Queremos apenas que parem de roubar os nossos sonhos, pois a vida aqui é de muitas realidades.