Podia não ter chocolates em formato de ovos e nem coelhinhos enfeitando as mesas como pedem as mídias de hoje. Mas tinha o principal. As famílias estruturadas reunidas. Nas favelas, elas (famílias) sempre foram pobres, mas eram ricas na formação de seus filhos. Não faltavam palavras de carinho, amor e outros “combustíveis” necessários para uma boa e perfeita criação dos mesmos.
Idos dias em que a felicidade insistia nos perseguir diante dos simples e variados detalhes como: jogar bola de gude, brincar de piques, amarelinha, passar anel, etc.
Já havia também responsabilidades entre nós, meninos e meninas. Nas feiras fazíamos carretos conduzindo as bolsas de compras das freguesas vizinhas próximas e distantes. Quando não tinha feiras, nós meninos íamos engraxar sapatos. Desta forma, contribuíamos para melhorar o minguado orçamento dos nossos pais, enquanto as meninas ajudavam cuidando da casa inclusive tomando conta das crianças menores.
Éramos crianças felizes mesmo vivendo em desconfortáveis barracos. Nossos pais sempre muito preocupados com a nossa formação nos passavam as mais variadas lições de tudo aquilo que podíamos ou não fazer. Assim crescemos sem inverter os valores primordiais da vida: respeito, obediência e disciplina. O verdadeiro significado da Páscoa se fazia presente vestido de união, passagem, mudança e muito amor.
Hoje o que vemos infelizmente é a inversão desses valores. Meninas grávidas e outras com filhos nos colos. Quanto aos meninos, muitos evadidos das escolas encontram-se ociosos nas ruas e outros nas bocas-de-fumo.
Neste domingo, dia 27 de março, pudemos assistir o grande exemplo de parte do que foi exposto acima. Era Páscoa e a ainda menina Taiane Pereira da Silva de 20 anos, chorava a perda precoce do seu filho Ryan de quatro aninhos alvejado com um tiro no peito.
Ela dizia entre prantos e soluços: “Tiraram meu filho, que é isso Senhor? Meu mundo acabou. Ai, meu filho, ai, Ryan, por que você me deixou”?
Vejamos, Taiane agora com 20 anos e seu filho com 4 anos, significa que quando teve Ryan ela tinha apenas 16 anos. Nessa idade, nossa geração ainda brincava, estudava e trabalhava o que chamávamos de três em um daqueles velhos tempos, que mesmo sem os caríssimos bombons e coelhinhos de hoje, tínhamos a verdadeira Páscoa.