As palavras, às vezes, se tornam mecânicas. E palavras mecânicas são palavras que perderam o groove dos fenômenos do mundo.
Automáticas, descasadas da vida e de suas tramas, as palavras serão como bichos empalhados querendo chamar a atenção numa savana.
Não precisa ser ininterrupto o fluxo das palavras. Precisamos calar, ouvir, perceber… tornar mais receptiva a gaiola da mente para reciclar as palavras-pássaros.
Quando os fatos têm o claro aspecto de uma fulgurante mesmice, as palavras necessitam de vigilância sagaz para não se tornarem mesmice espelhando mesmice.
Em momentos como este, exuberante de agonias e incertezas, clara encruzilhada, mórbida esfinge, especialistas humilhados por todos os lados, excesso de labirinto, excesso de minotauro, novelo nenhum!, geral cego, tateando, aos socos, o outro, e as paredes, e a si mesmo… Em momentos assim, deste jeito, as palavras são a única saída, a última esperança.
Mas como provar isso num mundo assim verborrágico, como nunca antes na história? Como provar isso num mundo onde as palavras parecem empecilhos, ferrovias do ódio, palavra-mala repleta de ignorância, palavra-arma-tapa-navalha na rede-social-do-rancor?
Não estas palavras. Estas são palavras-mecânicas, as palavras crescidas à base de pesticidas, demônios-automáticos metralhando traçantes no céu sombrio da intolerância.
Precisamos de novas palavras. Frescas e orgânicas, sanguíneas e táteis, violentamente amorosas. Vamos fechar a torneira das palavras regularmente e nutrir com mais sensibilidade o reservatório.
Em breve, novas palavras farão brotar novos mundos. Só as palavras vão nos salvar.