Queda do poder aquisitivo, ansiedade e estresse são alguns dos fatores que estão levando jovens e adultos a beber mais
No dia 11 de janeiro, o ciclista Cláudio Leite da Silva, de 57 anos, andava de bicicleta no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro, quando foi atropelado pelo bombeiro João Maurício Correia Passos. O condutor do veículo que matou o cliclista foi filmado, minutos antes do acidente, em um posto de gasolina tentando se equilibrar com duas garrafas de bebida alcoólica na mão. Tragédias como essa são frequentes, e o aumento no consumo de álcool durante a pandemia associado à direção é comprovado por estatísticas da Operação Lei Seca no Rio.
Desde o retorno das blitzes, suspensas de março a outubro do ano passado devido ao novo coronavírus, o número de motoristas flagrados em estado de embriaguez pelo bafômetro subiu de 4,6% para 11,5%. Em média, um a cada nove motoristas parados na operação de outubro a janeiro estava com concentração de álcool superior ao permitido por lei. Antes, era um em cada 22 condutores.
Os dados acendem o alerta para o consumo excessivo de álcool justamente em fevereiro, mês do Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo (20) que coloca em debate o problema que afeta muitas famílias.
O novo coronavírus e o isolamento social imposto pela pandemia causaram um grande impacto na saúde física e mental da população brasileira. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) divulgou um estudo realizado em 33 países, entre maio e junho de 2020, sobre o aumento do consumo de álcool na pandemia da Covid-19. No Brasil, 42% dos entrevistados disseram que passaram a consumir mais bebidas alcóolicas durante o período.
As vendas de bebidas alcoólicas pela internet também dispararam. Entre março e outubro de 2020 houve um aumento de 960% e de 195% em relação ao mesmo período de 2019, de acordo com o levantamento da Synapcom, especializada em e-commerce.
A elevação do consumo de bebidas alcoólicas se deu tanto pela perda do poder aquisitivo e o aumento do estresse durante a pandemia, quanto pela facilidade de compra desse tipo de produto, apontou o especialista em dependência química, Marco Antônio Bessa, durante o evento MP Debate, da Escola Superior do Ministério Público do Paraná. Para o psiquiatra, as chances de desenvolver uma dependência durante este período é elevada, especialmente, para a faixa etária de 18 a 39 anos. Segundo ele, muitas vezes, as pessoas recorrem a bebidas alcoólicas por apresentarem sinais de ansiedade, tédio, insônia, insegurança, preocupação, tristeza, etc.
O consumo excessivo de álcool também causa lesão no fígado, enfraquecimento do sistema imunológico, ansiedade e comportamentos violentos que afetam toda a família e já podem ser observados no aumento da violência doméstica, além dos acidentes de trânsito.
Onde procurar ajuda?
AA
No site oficial dos Alcoólicos Anônimos (AA) estão disponíveis um teste para identificar quem precisa procurar ajuda e informações sobre qual o procedimento de tratamento adequado. A organização também oferece reuniões virtuais semanais para aqueles que necessitam de ajuda. Para saber mais, acesse: aa.org.br.
SUS
O Sistema Único de Saúde (SUS) também oferece atendimento gratuito às pessoas com sofrimento ou transtorno mental – incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas – é feito nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Veja a lista de endereços e telefones: www.rio.rj.gov.br/web/sms/caps.
Matéria publicada originalmente no jornal A Voz da Favela de fevereiro de 2021.