Eu nasci e me criei na favela de Vigário Geral no subúrbio do Rio de Janeiro. Sempre frequentei as praias da Zona Sul com um “bando de pobres e pretos sem um puto no bolso”. Como conseguíamos fazer esse milagre? Simples: nós acordávamos cedo, tomávamos um café reforçado e seguíamos para o ponto final do 484 (Olaria/Copacabana), em Olaria. De lá, vínhamos como sardinha enlatada para a Praia do Arpoador. Duas horas pra vir e duas pra voltar. A gente trazia pão com mortadela e dividia com 3 ou 4 amigos. Comíamos na seca, sem refrigerante ou suco. Quando chegávamos em casa era comer o que tinha na panela. E depois tirar um cochilo pra de noite ir pra praça do bairro ficar paquerando as minas porque dinheiro para entrar no baile funk a gente não tinha .
Em 1992 eu já tinha 24 anos de idade quando jovens da favela em que eu morava foram acusados de comandar o arrastão na Praia de Ipanema. A data do ocorrido foi 18 de Outubro de 1992 (dia em que o Brasil foi apresentado ao arrastão). Desta data até o dia de hoje se passaram mais de 9000 dias e, de tempos em tempos, temos a mesma notícia: arrastões provocam pânico na Zona Sul do Rio de Janeiro.
O que deveria ser uma coisa do passado veio à tona novamente este mês, e por isso me pergunto: qual foi o montante de tempo e de recursos financeiros investidos em políticas com foco na formação, lazer e cultura para a juventude da periferia do Rio de Janeiro? Alguém pode me fornecer estes dados? A única coisa que sabemos de fato é: segundo a UNICEF, o número de crianças e adolescentes assassinados no Brasil com idade até 19 anos duplicou entre 1990 e 2013, passando de 5.000 casos para 10.500 por ano. O que equivale dizer que 28 jovens são assassinados por dia neste democrático e igualitário país. Deixo aqui 13 perguntas que precisamos responder, se é que queremos mesmo encarar o problema e apontar soluções:
1. Quem é mesmo violento neste país? 2. Quem ameaça quem? 3. Quem são os inimigos da juventude? 4. O que é arrastão? 5. O que é paz? 6. Paz pra quem? 7. O que queremos dos jovens? 8. O que estamos fazendo para esta camada da população? 9. Quem dialoga com eles no papo reto? 10. Quais são as políticas afirmativas para estes jovens? 11. Quem são as ONGs beneficiadas com recursos do Estado e da Prefeitura e quais os resultados que elas alcançaram até agora? 12. Quem são estes baderneiros? 13. Que tipo de lazer eles têm no subúrbio? Ou discutimos esta problemática e apontamos caminhos (com investimentos de recursos financeiros e de pessoal) ou os arrastões nossos de cada dia estarão presentes nas praias da cidade que ousa se chamar maravilhosa.