“Tem muita gente aqui que trabalha fora. Se o vírus se espalhar aqui, se espalha por todo o resto de São Paulo”, diz Hebert Douglas Santos da Silva, 24 anos, ao lado da esposa Regina Santos da Silva e dos filhos Isac e Isabela, moradores de Paraisópolis, zona Sul de São Paulo. Desempregado há um ano e meio, arrumou na semana passada um bico no mercado local.
Em Paraisópilis o povo sabe dos perigos de infecção, mas não dá pra escolher. Como Herbert Douglas, centenas, milhares de paulistanos que se viram privados da sua viração de repente buscam uma forma de ganhar algum e sustentar os seus. É difícil, mas não existe a opção de desistir.
É ele quem conta: “Eu acho que é grave, mas não sei…As coisas estão todas abertas e funcionando: bar, adega, loja. Um amigo me disse hoje que tá voltando pro trampo numa loja, o dono abriu na quarta-feira meio período, deu movimento e ele vai abrir o dia inteiro amanhã, 3.”
“Não adianta eu me cuidar se o resto do povo não se cuida. Dá no mesmo. Não sei dizer o que as pessoas pensam, qual é o entendimento que elas têm dessa doença. Na real, não sei dizer mesmo”, resume Herbert Douglas, um chefe de família preto e pobre entre tantos em Paraisópolis.
Há 12 anos, Paraisópolis foi um dos destaques na visita de vários urbanistas estrangeiros que chegaram à conclusão de que a “favela” é incomparável a qualquer outra no mundo e “não poderia assim ser classificada”. Se voltassem hoje talvez tivessem impressão oposta.