De dois em dois anos, uma cena se repete em determinado período do ano: a romaria de candidatos a cargos políticos nas favelas em busca de votos. Como dizia o sábio Bezerra da Silva, são os “candidatos Caô Caô”. Na hora de pedir votos, eles se mostram os serem humanos mais amáveis do mundo. Beijam bebês, abraçam as tias, comem churrasco de gato e até bebem cachaça em alguma birosca para mostrar que são do “povão”. Depois de eleitos, esquecem completamente as promessas e aprovam leis contra os próprios eleitores que os elegeram – vide o caso da PEC 241.
Fica aqui a pergunta: quando teremos políticos que se comprometam com as necessidades do povo das favelas e periferias? Sim, já elegemos políticos vindos de favela, inclusive, uma governadora, que tinha como slogan principal “Mulher, Negra e Favelada”. Porém, para a decepção de muita gente, seu governo não fez a ruptura para conter a guerra às drogas (que, na verdade, é uma guerra ao povo preto e favelado) nem promoveu políticas sociais necessárias para a transformação da vida de quem vive na periferia.
O que fazer então para conseguirmos montar uma frente realmente engajada em atender esses milhões de pessoas por todo o Brasil? Na Europa, ecologistas criaram o Partido Verde para defender o meio ambiente. Organizações tentam emplacar também a Frente Favela Brasil para defender nossos interesses. Mas por que não começamos a efetivar seriamente a criação de um partido que tenha como base a melhoria e dignidade para quem vive nas favelas? Um partido que tenha como bandeira o fim do genocídio da juventude negra? Um projeto que leve educação de qualidade para as crianças faveladas, formando assim uma geração pensante e qualificada?
Precisamos de fato levar essa discussão a sério. O povo favelado não pode mais esperar que gente de fora resolva os nossos problemas. Temos que nos reunir e criar soluções para os problemas especificamente da periferia. Não é admissível que nos dias de hoje em pleno século 21, as pessoas precisem carregar latas d’água na cabeça para ter água potável em casa, ou viver em comunidades com esgoto a céu aberto, fora os incontáveis casos de violência policial cometidos contra os moradores, que continuam acontecendo diuturnamente nas favelas do Rio de Janeiro.
Eu apoio muito essa idéia.