“Batalhão Patrulha da Paz” é o nome de um grupo paramilitar evangélico que faz abordagens em Brasília para pregações bíblicas e tentar convencer dependentes químicos a se internarem em clínicas cristãs, sem indicação médica ou determinação judicial. Os agentes vestem farda com insignias e usam viaturas com giroflex e cela na traseira para detidos. Afirmam que a sua arma é a Bíblia, mas um vídeo mostra que os integrantes do grupo têm treinamento militar, de defesa e ataque.
Ligado à Assembleia de Deus do Guará, o comandante do grupo, pastor Gilmar Bezerra Campos, afirmou ao The Intercept que seus agentes nunca aplicam golpes físicos nas pessoas que abordam. O Guará é uma cidade satélite do Plano Piloto criada no começo dos anos 1980 onde foram erguidos prédios destinados a servidores do Distrito Federal, sobretudo policiais civis, militares e bombeiros. A iniciativa, inédita e ilegal, é um dos sinais mais óbvios da cultura cristã fundamentalista instalada no poder desde o período Temer.
O grupo paramilitar intimida adolescentes de bairros pobres e moradores de rua desde 2011, e só agora a sua ilegalidade começa a ser questionada. Os abordados ouvem sermões do tipo “Se tivesse tomado a decisão de servir a Deus, você nunca teria ficado desamparado”, à semelhança do que ocorre em países muçulmanos, onde agentes da polícia religiosa reprimem o que consideram desvios de comportamento, uso de drogas e homossexualidade.
A pedido da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa do Distrito Federal, o Ministério Público investiga as atividades desses religiosos. Artigos da lei de contravenções penais fixam até cinco anos de prisão a quem usar uniforme para se passar por funcionário público ou autoridade policial. A Polícia Militar local, no entanto, nunca se incomodou porque vê o grupo evangélico como colaborador.
O grupo possui mais de 100 agentes de várias denominações evangélicas. Desse total, 40 “soldados” percorrem favelas, em esquema de revezamento.
O Ministério Público está investigando a origem do financiamento do batalhão, pessoal, combustível, fardamento etc. Como as clínicas cristãs recebem subsídio governamental por interno, como a Casa Reino Unido, é possível que os paramilitares tenham ajuda delas em troca do fornecimento de pacientes.
O comandante Bezerra disse que vendeu uma pizzaria para comprar três viaturas e que a quarta foi doada por um supermercado. Desde 2014, segundo ele, vive dos ganhos de sua mulher, que é manicure. Mas não dá para acreditar que ela sustente o marido e a manutenção do grupo.
Bezerra registrou seu batalhão como organização civil de interesse público, o que o habilita a receber recursos públicos. Essa é outra pista para se chegar à origem dos recursos desses paramilitares.
A existência do grupo paramilitar apoiado pelas instituições no Distrito Federal foi denunciada no começo do mês no The Intercept Brasil e no site Metrópoles, de Brasília.