Desde o último domingo, 2, vieram à tona depoimentos de mulheres que relatam episódios de abusos sexuais cometidos por Jair Tércio Cunha Costa, 63 anos, um dos criadores da Fundação Organização Científica de Estudos Materiais, Naturais e Espirituais (Ocidemnte) e ex-grão-mestre da Grande Loja Maçônica da Bahia (Gleb). Um dos relatos sobre os abusos é da pedagoga Tatiana Badaró, 35 anos, que teve o primeiro contato com Jair Tércio aos 16 anos, através do seu namorado que frequentava o grupo de estudo coordenado pelo líder espiritual.
Tatiana diz que sofreu os abusos tanto sexuais quanto psicológicos, segundo ela, quando tinha 21 anos. A primeira agressão foi na casa de Jair Tércio, que a aliciou com a justificativa que precisava de ajuda com materiais de uma de suas palestras. Os abusos continuaram regularmente durante um ano. “Ele me privou de tudo, de minha própria vida. Eu só podia viver o que ele queria que eu vivesse. Eu não podia usar biquíni, ir à praia, ir para festas, encontrar meus amigos de infância. Até em encontros de família, ele dizia para eu ir o mínimo possível. Eu não tinha vida fora da Fundação”, conta a pedagoga.
Por mais de 10 anos, ela diz que sofreu calada, mesmo se reunindo regularmente com outras pessoas que faziam parte do grupo sob a liderança de Tércio. Depois de ter descoberto que outras mulheres estavam passando pelas mesmas situações que ela, Tatiana resolveu romper o silêncio e procurou algumas delegacias para registrar a denúncia, mas encontrou dificuldade para formalizar a queixa por falta de provas.
Tatiana fez contato com organizações nacionais e internacionais que trabalham com violência contra a mulher e abuso em ambiente religioso, sendo atendida pelo Projeto Justiceiras, do Instituto Justiça de Saia, em São Paulo, que tem cerca de 3.500 voluntárias, entre advogadas, psicólogas e assistentes sociais.
Mais de 14 mulheres já formalizaram denúncia contra Jair Tércio e cerca de 200 depoimentos estão hoje em análise. As acusações foram encaminhadas para a Ouvidoria das Mulheres do Conselho Nacional do Ministério Público. O caso é investigado pelo Ministério Público da Bahia, através do Grupo de Atuação em Defesa das Mulheres (Gedem).
A defesa do líder espiritual emitiu nota dizendo que “os fatos narrados não condizem com a conduta do Sr. Jair Tércio Cunha Costa, que afirma jamais ter agido com violência física ou psicológica com qualquer pessoa, muito menos em contexto sexual. Todas as relações que teve, em toda a sua vida, foram consentidas e marcadas por carinho e afeto”.
Em Salvador, existem duas Delegacias Especiais de Atendimento à Mulher (DEAM). Uma no final de linha do Engenho Velho de Brotas, na Rua Padre Luiz Filgueiras, e outra em Periperi, na rua Dr. Almeida, na Praça do Sol. É possível também fazer a denúncia através dos Disque 180, que é a Central de Atendimento à Mulher, Disque 190, para prestar queixa diretamente à Polícia ou à Defensoria Pública da Bahia, ou o Disque 129. A ONG Tamo Juntas oferece assessoria e assistência jurídica para mulheres vítimas de violência, o contato pode ser feito através do Instagram @atamojuntas ou pelo e-mail tamojuntassempre@gmail.com.