Até quando a sociedade, imprensa, sociedade civil e Estado vão continuar com essa farsa chamada Unidade de Polícia Pacificadora? Na última semana, várias favelas com essas unidades foram palco de diversos tiroteios, causando mortes, sofrimento e dor. O Morro Santa Marta, que era uma das meninas dos olhos do projeto sangrento do agora ex-governador e réu Sergio Cabral, é a prova de que este projeto faliu financeiramente e moralmente.
Desde o desaparecimento de Amarildo na Rocinha, já estava claro que as UPPs são verdadeiras fábricas de tragédia para os moradores de favela. Exemplos tristes não faltam: Amarildo, Cláudia, o menino Eduardo… Ano passado, houve ainda a chacina na Cidade de Deus, onde policiais militares mataram vários suspeitos de tráfico em vingança pela queda de um helicóptero durante uma operação policial.
Vocês sabem como é viver ou morar numa favela? Já sentiram o medo de ser morto a qualquer momento por homens armados, com a chancela do Estado, que te encaram como verdadeiros inimigos? Já sentiram a sensação de impotência ao ver um PM entrar na sua casa sem mandado, revirar tudo e até abrir a sua geladeira? Já viu sua mãe ou algum parente próximo ser xingado e humilhado só porque não concorda com a postura deles? Já vi diversas vezes isso acontecer, e digo que é um exemplo da maneira que o povo das favelas são encarados, governo a governo: como pessoas de segunda categoria.
A verdade é que a sociedade carioca sempre via e vê os problemas da favela com distanciamento e frieza. Afinal, quem mora num edifício ou casa no asfalto, principalmente na Zona Sul da cidade, sabe que não existe a menor possibilidade de ter sua porta arrombada por um PM ou algum ente querido morto ou ferido por uma “bala perdida” da polícia. Portanto, essa parcela da sociedade sempre considerou isso como um problema de quem vive apenas nessas comunidades. Só veem a favela como local de mão de obra barata, na hora de contratar serviços do terceiro setor como limpeza e segurança… E olhe lá!
A sociedade civil precisa se conscientizar de que essa guerra contra as drogas vai continuar enquanto não nos unirmos e exigirmos o fim dessa política, o que inclui o fim das UPPs. Guerra contra as drogas é nada mais que uma espécie de luta de classes, mas em sua pior forma.