“Perdemos muito, inclusive o medo!” Esta foi uma das frases entoadas durante a mobilização que trancou a radial leste na cidade de São Paulo, no dia 28 de março. A multidão saiu às ruas mais uma vez para relembrar o assassinato de Marielle, que ainda permanece sem informações de quem foram os mandantes e os executores.
Marielle representava a ascensão da população, em especial das mulheres negras, no poder, em espaços que sempre nos foram negados. Participamos de atos, marchas, saraus, reuniões, homenagens etc., para fazer presente a luta que era dela, minha, nossa. A comoção nacional mostrou aos mandantes que estamos atentos e que seguiremos em luta. Porém, um ou dois dias seguintes ao assassinato, dois adultos e uma criança foram atingidas por disparos e foram a óbito no Complexo do Alemão, no tão conhecido enfrentamento entre polícia e varejistas de drogas, em que o resultado é sempre a morte.
A frase citada no início deste artigo é muito forte, pois anuncia que precisamos continuar a lutar por todas as vidas, pois mais duas chacinas ocorreram nos últimos dez dias: oito jovens na Rocinha e mais cinco em Maricá, sem contar as que não sabemos, aos índices de desaparecidos. A nossa tarefa é resistir. Aliás, a nossa ancestralidade nos ensina isso diariamente e só estamos aqui porque somos resistência.
Sabemos que esse projeto de extermínio no Brasil vem de anos e chegou a hora de sairmos todos às ruas em marcha e gritar bem alto: Perdemos muito, inclusive o medo. Queremos ter direito à vida digna. Fim do racismo, do machismo e da burguesia!!!!