É em meados do século 20, com as primeiras experiências democráticas no Brasil, que as associações dos moradores vão surgir. São coletivos que tinham como perspectiva servirem de mediadores entre as comunidades carentes e a prefeitura do Recife. A criação de associações será fortemente incentivada pela prefeitura de Pelópidas Silveira.

As associações atuam com o objetivo de esclarecer os moradores dos bairros sobre os seus direitos, colocando-os em prática. Exercer a cidadania cobrando melhores condições de vida, infraestrutura, trabalho, saúde e educação. Especificamente será na década de 1950 que esses coletivos populares, tanto no campo quanto nas periferias, reivindicavam garantias de direitos já adquiridos.

Em um contexto social que caminhava para uma Ditadura Militar, estas organizações periféricas eram vistas pela elite e pelos ramos mais conservadores da sociedade como agitação, subversão e uma ameaça para a ordem no país. Enquanto no campo as ligas camponesas surgiam, nos centros, morros e córregos mobilizam-se os sindicatos urbanos e as associações de moradores canalizando as demandas urbanas da população de baixa renda. Tudo isso em um momento político-social de repressão e “desdemocratização” onde foi criada a Delegacia da Ordem Política Econômica e Social (DOPS), estrutura de repressão da Ditadura Militar.

Estas associações possuíam um objetivo bastante claro: ajudar a prefeitura na administração da cidade, canalizando melhor as necessidades da população. Cada associação possuía seu estatuto, mas o que havia em comum entre elas era o fato de não existir distinção de cor, credo político, filosófico ou religioso. As associações não reivindicavam apenas melhorias urbanas, queriam também uma participação maior na vida política do Estado.

Algumas associações também eram espaços de educação formal, saúde, cultura e etc., promovidos principalmente pelo Movimento de Cultura Popular – MCP. Movimento que pensou em outra ideia de educação, uma educação popular, que não era só alfabetizar, mas criar uma autonomia na participação política. A população abraçou a ideia e os projetos em algumas associações duram até hoje. Em outras, como a Associação dos Moradores do Córrego João Carvoeiro / Fundão, houve ações voltadas para a alfabetização de crianças até o final da década de 90, mas sua sede não tem mais nenhuma atividade voltada para a cobrança de políticas publicas, educacionais, saúde etc.

Contudo, as lembranças deste tempo ainda estão presentes na memória de quem participou de iniciativas como estas. É o meu caso: sou nascido em 1988 no Recife e moro no Córrego João Carvoeiro, comunidade da Zona Norte do Recife. Agradeço muito pela minha alfabetização, principalmente por hoje ser o primeiro da minha família a ingressar em uma universidade publica federal. E sei hoje como estudante de Ciências Sociais – Licenciatura, que minha prática educativa leva em consideração a minha alfabetização na Associação dos Moradores do Córrego João Carvoeiro a partir de um projeto voltado a educação popular. Fui alfabetizado por esses projetos e na minha formação como estudantes foi muito rica e acredito que essas iniciativas deviam continuar por parte das prefeituras e do poder publico.

Convocação para segunda audiência pública do prefeito Pelópidas Silveira na Bomba do Hemetério – Arruda. 17-01-1957. Foto: Severino Fragoso. Fonte: Museu da Cidade do Recife.