Manguinhos tem mais idosos do que crianças, quase 80% dos jovens moradores da região, com idade média de 19 anos, estão trabalhando e a taxa de gravidez entre adolescentes de 15 a 19 anos está em 9,3%. Esses foram alguns dos dados preliminares apresentados pela pesquisadora da ENSP Marília Sá Carvalho durante o Seminário em Atenção Primária à Saúde – Um balanço do Programa Território-Escola Manguinhos, iniciado na quarta-feira (3/10), na ENSP. A pesquisa que originou esses dados, intitulada Condições de vida e saúde e uso de serviços de saúde no território Teias-Escola Manguinhos, foi realizada neste ano e teve a participação de jovens moradores da comunidade como recenseadores.
Estiveram presentes ao encontro o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha; o vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fundação, Valcler Rangel; o diretor da ENSP, Antônio Ivo de Carvalho; a gestora do Território-Escola Manguinhos, Elyne Engstron; a chefe do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria, Emília Correia; e o representante da Superintendência de Atenção Primária da Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro, André Luiz Andrade Justino.
Paulo Gadelha ressaltou que o projeto Teias mobilizou intensamente a Fundação como um todo. Segundo ele, é um processo de aprendizado social e de produção conjunta de conhecimento entre a Fiocruz, os agentes comunitários e a comunidade e é, ao mesmo tempo, um processo intenso de aprendizado institucional. “Estamos aprendendo, levantamos questões em relação a diferentes dimensões daquilo que também elegemos como pontos centrais, como integralidade, integração e formas de fazer. Os campos de atuação, como pesquisa, ensino e serviços, não podem, de maneira alguma, serem vistos como áreas separadas. Na interação desses processos, conseguimos produzir a reflexão de conhecimentos, tecnologias e formas de transformação”, comentou.
Seguindo o mesmo argumento do presidente da Fundação, Elyne afirmou quer este é um momento importante para reflexão. Segundo ela, muito já se fez e, agora, é o momento de conhecer, entender e montar ações mais estratégicas. Para tanto, deve-se focar na informação para a reorganização da atenção. “Conhecer as necessidades de saúde das pessoas e do território; planejar e desenvolver ações voltadas às necessidades; fomentar transformações com a corresponsabilização entre profissionais, pesquisadores e comunidade. Essas questões são nossos desafios”, afirmou. Elyne fez, ainda, um pequeno resumo de todo o seminário e apresentou ações, projetos, avanços já conquistados e alguns dados sobre Manguinhos.
“Nos últimos anos, este território se transformou. Houve redução do número de nascimentos, envelhecimento populacional, transição demográfica muito rápida e um grande número de mortes precoces entre jovens do sexo masculino por causas externas, em especial a violência. A rápida transição demográfica, mantendo-se tamanhas iniquidades sociais, associa-se ao aumento das condições crônicas de saúde, como hipertensão, diabetes, câncer e obesidade. Isso exige novas formas de organização dos serviços de saúde”, alertou Elyne.
População de Manguinhos tem mais idosos do que crianças
Marília Sá Carvalho, pesquisadora da ENSP e responsável pela pesquisa Condições de vida e saúde e uso de serviços de saúde no território Teias-Escola Manguinhos, relatou sua experiência no território, apresentou dados do estudo e apontou novos desafios a serem alcançados. A pesquisa, realizada com a participação de 18 recenseadores moradores de Manguinhos, pretendeu aprofundar o conhecimento das condições de vida e saúde da população e do uso de serviços neste território. Segundo Marília, a melhoria dos serviços e das condições de saúde da população é a finalidade maior do projeto. Os dados, quando estiverem prontos, serão disponibilizados de forma organizada em acesso livre.
Dados preliminares do censo apontaram que Manguinhos tem mais idosos do que crianças. A taxa de gravidez entre adolescentes de 15 a 19 anos ainda é alta: 9,3%. Além disso, mais da metade das mulheres não realiza preventivo há mais de três anos. Para Marília, isso é uma questão que deve ter a atenção dos profissionais.
Sobre a escolaridade, a maioria da população não apresenta nem o ensino fundamental completo. Apenas entre os jovens com média de 19 anos, essa taxa chega a cerca de 50%. Numa análise feita com o mesmo grupo, foi detectado que 80% desses jovens estão trabalhando. E as chances de trabalho da população de Manguinhos são três vezes maior entre os homens e seis vezes maior entre as pessoas que têm o ensino médio completo.
Em relação à moradia, cresceu muito o número de pessoas que moram sozinhas em um domicílio. Além disso, 100% dos entrevistados moram em casa de alvenaria, 85% têm piso de cerâmica, 85% têm laje e 100% têm luz elétrica em casa. Os dados mostram que 99% têm água canalizada. Destes, 63% a filtram para o consumo e 19% compram água industrializada. Em relação ao lixo, 54% o depositam em caçamba e apenas 8% o jogam nas ruas e rios.
Entre a população do território, 90% possuem celular, 73% possuem máquina de lavar ou tanquinho e 50% têm computador. Entre estes, quase 40% têm acesso à internet. Isso significa, segundo Marília, que muitas pessoas têm acesso fácil à informação. Alguns pontos ainda não puderam ser observados, como as taxas de trabalho formal, o motivo de não estarem trabalhando e a renda da população. De acordo com a pesquisadora, essas questões merecem atenção.
Fonte: Informe Ensp