O GEMAA (Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa) revelou dados alarmantes sobre a presença de profissionais negros nos principais veículos de comunicação impressa do país, destacando a necessidade urgente de mudanças.
Os resultados da pesquisa indicam que a representação de pessoas negras nos jornais Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e O Globo é significativamente inferior à proporção racial na população brasileira. Enquanto os brancos aparecem em mais do dobro de sua representação populacional, os pretos representam apenas 0,65%, e os pardos, 0,13%, uma oitava parte de sua presença demográfica.
Essa desigualdade reflete não apenas a falta de diversidade nos conteúdos veiculados, mas também na construção de visões de mundo e na formação de gostos.
Nesse contexto, profissionais como Luana Assiz surgem como agentes de mudança. Com uma trajetória de 15 anos na comunicação, a jornalista testemunhou a transição no cenário midiático. “Quando comecei existia pouquissimo espaço para jovens profissionais negros na tela da TV. Hoje nós começamos a ocupar, cobrar e inspirar, fazendo com que as oportunidades sejam menos escassas”, pontua, apontando para uma evolução positiva, embora ainda haja desafios a superar.
A profissional se destaca não apenas por sua presença na TV, mas também por liderar iniciativas sociais, offline e online, a exemplo do “Conversa Preta Digital”, um projeto que leva discussões aprofundadas sobre questões raciais para a internet, reforçando a importância de abrir portas e criar conteúdos que ressoem com a diversidade de experiências.
“O Conversa Preta Digital leva para a web, em um formato que cabe na internet, discussões profundas sobre questões raciais. Quando desenvolvi e executei esse projeto, em 2022, tivemos convidadas importantes, como a Dra. Livia Vaz, o que nos gerou um alcance muito bom. Acho que a partir dessa e de outras iniciativas, abriram-se novas portas – que ainda estão longe de serem as ideiais, mas que já proporcionam oportunidade para novos conteúdos”, afirma a jornalista.
Como apresentadora do programa, Luana enfrentou percalços, especialmente no início. “Desbravar caminhos sempre carrega desafios de entender como e por onde seguir”, relata. No entanto, com temporadas anteriores de sucesso e interesse do público, ela percebe que a discussão sobre temas sensíveis relacionados ao racismo tem ganhado espaço e impacto social. Atualmente a jornalista também atua como palestrante e mediadora, buscando diferentes formas de comunicação para promover uma sociedade antirracista. “O propósito é comunicar com leveza, profundidade e impacto social”, pontua.
Além do trabalho no Brasil, a experiência internacional de Luana em Angola ampliou o seu olhar sobre questões políticas e sociais, deixando evidente a importância de entender sobre semelhanças. “Essas experiências ampliaram o meu olhar sobre o mundo e sobre a política. Há questões que são urgentes no Brasil e que não são pautadas em Angola e vice-versa. Entender as semelhanças e diferenças entre os países é uma quebra de paradigmas e tem sido importante enquanto repertório para a execução de projetos diversos”, acrescenta.
No contexto atual, marcado pela ascensão de movimentos antirracistas, Luana enxerga o jornalismo como um aliado na construção de narrativas que promovam a diversidade e combatam o racismo estrutural. “O jornalismo e o entretenimento têm diversificado as vozes amplificaras pelos microfones e nessa mudança entraram os ativistas dos movimentos negros. Isso foi fundamental para a ascensão de nomes como Djamila Ribeiro, que se tornou conhecida pelo conceito de lugar de fala, tema do livro de abertura da coleção Feminismos Plurais. Essa discussão pegou fogo nas redes e os grandes veículos levantaram mais a pauta. É apenas um exemplo do quanto essas narrativas antirracistas têm sido trazidas para o grande público, finaliza Luana.