Na tradição das políticas de segurança pública (e privada!) existe um conceito que historicamente norteou algumas ações de alguns agentes executores da Lei. Para estes, existem pessoas “matáveis’, isto é, são pessoas que podem ser mortas, executadas, com a certeza plena de impunidade, e a consciência tranquila, ao acharem que a sociedade não irá questionar as ações desses agentes de segurança nas favelas e/ou comunidades carentes.

Isto é possível de se constatar nos milhares de registros de auto por resistência, e em outras formas de se tornar uma morte cruel, claramente com características racistas, de execuções extrajudiciais, em uma peça jurídica, que inocenta e por vezes até promove quem está por trás da arma. Por vezes, a certeza da impunidade é tanta, que sequer se faz uso do auto de resistência.

Simplesmente se “desaparece” com a vitíma. Os métodos de desaparecimento têm se modernizado com o tempo, devido a dois elementos: em primeiro lugar à evolução das técnicas periciais(não há um CSI Rio de Janeiro, mas…), e mais importante do que isso, devido a mobilização de setores da sociedade, ONG’s, sites e organizações de comunicação comunitária, jovens militantes com suas câmeras ágeis e curiosas, ligadas às redes sociais.

Isso tudo, infelizmente, não impede que a vontade de demostrar poder e impunidade seja mais forte. Segundo dados de organizações, como a ONU e a Human Rights Watch (HRW), a PM de São Paulo e do Rio de Janeiro matam mais do que a dos Estados Unidos e Inglaterra juntas. A certeza da impunidade faz o policial cometer o crime. Para a família da vítima, apena resta a esperança de encontrar o ente “desaparecido” vivo.

Foi assim com o menino Juan, morto por PM’s em Nova Iguaçu. E infelizmente, assim também parece ser o caso do pedreiro Amarildo, morador da favela da Rocinha. Ambos, Juan e Amarildo(assim como tantos outros), para a lógica “subterrânea”, são pessoas “matáveis”. Negros, pobres,moradores de comunidades carentes.

Talvez quem os levou pensou que estes seriam vitímas fáceis. Eram.

Talvez quem os levou pensou que ninguém sentiria suas faltass, ou que não  fossem reclamar “às autoridades competentes”, por medo de retaliação ou de não serem ouvidos. Erraram.

Os “desaparecimentos” tanto de  Juan quanto de Amarildo,acabaram gerando uma forte mobilização, que coloca em xeque a polícia do governador  Sérgio Cabral, e sua  certeza plena de impunidade, sua escolha por matar primeiro e averiguar depois.

Parte da sociedade brasileira pergunta” onde está Amarildo?

 Alguns sabem a resposta,mas preferiam não saber. A demora em responder, por parte da Secretaria de Segurança do estado do Rio de Janeiro, somente comprova a triste verdade:  ele não está  mais  fisicamente entre nós. Tornou-se estatística, dolorosa e vergonhosa estatística, das pessoas vítimas de uma polícia racista e pré conceituosa, por ter  o conceito pré concebido que todo favelado é seu inimigo, logo pessoa “matável”.

Gostaria muito que no momento em que acabo de escrever este texto, lesse em algum lugar que o pedreiro Amarildo acaba de ser encontrado, e que está bem. Mas, as estatísticas,e a tradição de violência e desrespeito ao povo pobre,provavelmente não deixarão isso acontecer.

Com a palavra, a polícia do estado do Rio de Janeiro: Onde está Amarildo?