Em pronunciamento pré-gravado, apresentado em rede nacional, Luis Caputo, anunciou os primeiros passos do plano econômico do governo de extrema-direita de Javier Milei, onde declara-se: não serão renovados contratos de trabalho com validade inferior a 1 ano, o Estado cancelará os contratos que não tenham iniciado obras e serão realizadas pelo setor privado, redução dos subsídios à energia e aos transportes, aumento do imposto nacional sobre importações e retenções de exportações não agrícolas
O dirigente do Movimento de Trabalhadores Excluídos (MTE), Juan Grabois, qualificou as medidas de Caputo. como “um assassinato social sem vacilar como um psicopata prestes a massacrar suas vítimas indefesas”, expressou em sua conta no X (antigo Twitter). “Mesmo que prendam, persigam, demonizem, exilem ou matem todos os líderes, o povo não se deixará abater”.
Da mesma forma, Grabois mencionou que o repasse da desvalorização à inflação indica um aumento de pelo menos 80% no custo de vida nos próximos 90 dias, que certamente será maior nos alimentos. “O salário registado no setor privado, no sector público, na economia popular, social e solidária, no setor cooperativo ou informal, nos reformados e pensionistas, chegará a metade no supermercado. Que fique claro, aqueles que eram de classe média, simplesmente o jogaram na pobreza com um clique e com mau humor criando a ilusão de que não havia outro caminho possível”.
Grabois acentuou que para os mais pobres entre os pobres é anunciado o aumento do Auxílio Alimentar, mas este benefício só atinge 2,3 dos 5 milhões de famílias pobres atuais, que com a desvalorização aumentará para pelo menos 6 milhões. O congelamento ilegal do Salário Social Complementar implica uma redução de 80% do seu poder de compra. O dirigente esclareceu: “O impacto nas zonas semirrurais e zonas de pobreza, sem o fornecimento urgente de alimentos pode causar uma crise humanitária sem precedentes. Não estou contando os aumentos de transporte e energia porque não tenho certeza qual será o impacto no preço final, mas ajudar não vai ajudar”.
Grabois concluiu: “Estes serão os próximos 90 dias do Governo Milei e depois do sofrimento estaremos simplesmente vários passos abaixo. Isto é simplesmente um confisco maciço da propriedade privada e dos direitos económicos de milhões de pessoas. Você realmente acha que as pessoas não vão protestar? Mesmo que comprem, prendam, persigam, demonizem, exilem ou matem todos os líderes, o povo não se deixará abater”.
O desastre anunciado: stagflação, pobreza e desemprego
No seu primeiro discurso como presidente da Argentina, na escadaria em frente ao Congresso, Javier Milei confirmou seu plano de guerra contra os trabalhadores. Fez um pronunciamento “sem anestesia”, como dizem seus assessores, preparando os argentinos para um choque econômico, com corte de gastos e de subsídios. Ele afirmou que “não há outra alternativa” a um ajustamento brutal durante pelo menos dois anos.
Diante de seus eleitores, que se reuniram na Praça do Congresso debaixo de forte sol, Milei não vacilou em reconhecer que haverá queda dos salários, mais inflação, mais pobreza e desemprego. O futuro de uma ilusão chegou cedo. Ao mesmo tempo, ele abriu os braços à “classe política” para propor a negociação do reajuste. O novo Governo prepara-se para tentar avançar com a privatização de diversas empresas. Algumas delas de natureza estratégica. Entre as empresas visadas estão a petrolífera YPF, a Aerolíneas Argentinas e os meios de comunicação públicos.
Para ficar à frente dessa tarefa, Milei tem como Ministro da Economia, Luis Caputo. Foi-se o tempo em que Milei o criticou e acusou fortemente de ter desperdiçado mais de 15 mil milhões de dólares de reservas do Banco Central, quando era Ministro das Finanças do governo de Mauricio Macri (2015-2019), para evitar uma desvalorização do peso. Ele foi o responsável por um devastador empréstimo 44 bihões de dólares ao FMI. A Em maio deste ano, a Auditoria Geral da Nação Argentina aprovou por maioria um estudo que identifica irregularidades no empréstimo do fundo monetário internacional ao governo do ex-presidente Mauricio Macri. O crédito concedido pelo FMI excede, em mais de cem vezes, o limite que o país poderia obter com o órgão financeiro
Milei já antecipou algumas propostas que Caputo terá que administrar: haverá um período, difícil de “estagflação”, quando ele promete “liberar todos os preços que puder”. A estagflação é uma das piores “doenças” que uma economia pode sofrer. É a combinação de estagnação e inflação. Ou seja, os preços sobem enquanto a atividade económica cai, torna-se estagnada, gerando desemprego. Esse cenário, jamais foi mencionado na campanha eleitoral, quando candidato de extrema-direita agitava uma motosserra em seus comícios escatológicos.
O presidente eleito afirmou que somente após 24 meses, ou seja, na metade de seu mandato, poderá conter a inflação de seu país, na casa dos 140% anuais. Diante desse cenário, resta saber qual será o papel desse eleitorado e dos movimentos sociais do país, cujas ruas têm um desempenho político muito forte e, geralmente, decisivo.
No seu primeiro dia como presidente, Milei assinou os primeiros decretos do seu governo com uma reestruturação total do Gabinete nacional, que passou de 18 para 9 ministérios e três secretarias com nível ministerial. Foram mantidos o Ministério do Interior, Ministério das Relações Exteriores, Comércio Internacional e Culto, Ministério da Defesa, Ministério da Economia, Ministério da Infraestrutura, Ministério da Justiça, Ministério da Segurança, Ministério da Saúde, Ministério do Capital Humano. Ministérios fundamentais e que estão voltados para a formação da juventude e valorização da cidadania, justiça social e direitos humanos foram extintos: Educação, Cultura, Trabalho, Desenvolvimento Social, Meio Ambiente e Mulher passam para a órbita do novo Ministério do Capital Humano.
Movimentos sociais preparam resistência
Apesar da extrema-direita ter vencido as eleições presidências, ela possui uma frágil base na Câmara dos Deputados e no Senado, já que foi derrotada no primeiro turno pelos peronistas, que se mantêm como a maior força política do país. Suas propostas de privatização total enfrentarão forte oposição, tanto na Assembleia quanto nas ruas. Sindicatos e movimentos sociais argentinos afirmam que irão resistir.
A necessidade de encontrar soluções imediatas obrigará Milei a negociar com aqueles que durante a campanha ele chamou de “escória humana” e “desastres”. A pressão de Milei entrará em inevitável conflito com o Congresso, que é responsável por aprovar possíveis reformas para reduzir impostos ou mudanças no sistema de pensões, como ele propõe.
Os movimentos sociais começam a preparar a resistência às medidas predatórias que se aproximam. O governo empossado não terá vida fácil. As ameaças de privatização e sucateamento do Estado, prometidos por Milei, já estão sendo severamente contestadas. O titular da Associação de Pilotos de Linha Aérea (APLA), Pablo Biró, pediu “prudência” diante da indefinição sobre o futuro da Aerolíneas Argentinas, mas alertou que Milei “terá que carregar os mortos e terá que me atingir primeiro”. E se ainda por cima “ele quiser nos colocar na prisão ou abolir o direito de greve ou perseguir, ele, como Fujimori, ex-presidente peruano, acabará na prisão”. Mas “se houver uma mesa de diálogo”, acrescentou, os trabalhadores daquela empresa “têm elementos para discutir”.
O primeiro discurso presidencial deixou a ameaça de um ajuste muito duro contra os trabalhadores. Ao mesmo tempo, Milei abriu os braços à “classe política” para propor a negociação do reajuste. Nas ruas, a concentração tinha vários limites. Devemos preparar a resistência ao ataque que se aproxima. Entre as mudanças profundas que Milei propõe, há também uma reinterpretação do terrorismo de Estado, argumentando que a ditadura militar (1976-1983) apenas cometeu “excessos” e que o número de 30 mil desaparecidos não é verdadeiro. “A bandeira do negacionismo é carregada pela vice-presidente eleita, Victoria Villarruel, filha e neta de militares. Ativistas de direitos humanos receberam-na no domingo na escola, onde votou, com cartazes de repúdio.
“Casta” demonizada foi decisiva para vitória de Milei
Armado com um motosserra, Milei apelou durante a campanha ao “extermínio da casta política”, que acusa da perpétua crise econômica que devasta a Argentina, mas foi com essa mesma “casta” demonizada que ele pode se eleger presidente. Duas alianças eleitorais foram fundamentais. Além do apoio do ex-Presidente Maurício Macri, também teve a adesão da ministra de Segurança do mesmo governo, Patricia Bullrich, candidata da clássica direita neoliberal, apoiada por Macri, que foi derrotada no primeiro turno.
Essas alianças anunciam também um prematuro e inevitável estelionato eleitoral, pois Macri e sua correligionária Bullrich não têm propostas políticas que se alinham automaticamente com a motosserra da extrema-direita, como o fechamento do Banco Central e a dolarização da economia, sendo que ambas propostas já foram descartadas por Caputo. Mas a visão predatória de Milei vai mais adiante.
Diante do resultado eleitoral, percebe-se que foi quebrada até mesmo a relutância daqueles argentinos que, desde o retorno à democracia em 1983, defendem o papel de um Estado benfeitor ou empresarial, seja com o peronismo ou com o liberalismo, como o de Macri. Na Argentina, a saúde e a educação, em todos os níveis, são públicas e gratuitas.
Há outro fator relevante que poderá conduzir Milei ao estelionato eleitoral. Além dos desafios econômicos, ele também lidará com um Congresso dividido. Seu partido, La Libertad Avanza, não terá a maioria dos assentos na Câmara dos Deputados e no Senado. Ele será forçado a negociar com legisladores aliados e a tarefa impossível de convencer a oposição peronista se pretende avançar com suas reformas uma vez que não tem maioria no Congresso.
Em pronunciamento pré-gravado transmitido no final da tarde de segunda-feira, 13, Caputo anunciou os primeiros passos do plano econômico predatório do governo, onde declara-se: não serão renovados contratos de trabalho com validade inferior a 1 ano, o Estado cancelará os contratos que não tenham iniciado obras e serão realizadas pelo setor privado, redução dos subsídios à energia e aos transportes, aumento do imposto nacional sobre importações e retenções de exportações não agrícolas
El dirigente do Movimento de Trabalhadores Excluídos (MTE), Juan Grabois, qualificou as medidas do ministro de Economia Luis Caputo. como “um assassinato social sem vacilar como um psicopata prestes a massacrar suas vítimas indefesas”, expressou em sua conta no X (antigo Twitter). “Mesmo que prendam, persigam, demonizem, exilem ou matem todos os líderes, o povo não se deixará abater”.
Da mesma forma, Grabois mencionou que o repasse da desvalorização à inflação indica um aumento de pelo menos 80% no custo de vida nos próximos 90 dias, que certamente será maior nos alimentos. “O salário registado no setor privado, no sector público, na economia popular, social e solidária, no setor cooperativo ou informal, nos reformados e pensionistas, chegará a metade no supermercado. Que fique claro, aqueles que eram de classe média, simplesmente o jogaram na pobreza com um clique e com mau humor criando a ilusão de que não havia outro caminho possível”.
Grabois acentuou que para os mais pobres entre os pobres é anunciado o aumento do Auxílio Alimentar, mas este benefício só atinge 2,3 dos 5 milhões de famílias pobres atuais, que com a desvalorização aumentará para pelo menos 6 milhões. O congelamento ilegal do Salário Social Complementar implica uma redução de 80% do seu poder de compra. O dirigente esclareceu: “O impacto nas zonas semirrurais e zonas de pobreza, sem o fornecimento urgente de alimentos pode causar uma crise humanitária sem precedentes. Não estou contando os aumentos de transporte e energia porque não tenho certeza qual será o impacto no preço final, mas ajudar não vai ajudar”.
Grabois concluiu: “Estes serão os próximos 90 dias do Governo Milei e depois do sofrimento estaremos simplesmente vários passos abaixo. Isto é simplesmente um confisco maciço da propriedade privada e dos direitos económicos de milhões de pessoas. Você realmente acha que as pessoas não vão protestar? Mesmo que comprem, prendam, persigam, demonizem, exilem ou matem todos os líderes, o povo não se deixará abater”.
Por Bruno Falci, correspondente em Buenos Aires da ANF
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