Plano inclinado e Teleférico têm sido alternativas de transporte implantadas em algumas favelas do Brasil para facilitar a mobilidade dos moradores. De acordo com o arquiteto e especialista em urbanização de favelas, Pablo Benetti, ambas ligam a parte baixa de um local a parte alta. O plano inclinado corre junto à superfície do solo, podendo ter paradas intermediárias, e o teleférico interliga os pontos mais altos de uma topografia, que, no caso das favelas, seriam os morros.
Jadson Nascimento dos Santos, 27 anos, estagiário de jornalismo, e sua mãe, Altamira Mello do Nascimento, 64 anos, técnica de enfermagem, moram na favela do Curuzu, na Bahia. Eles utilizam frequentemente o plano inclinado que fica na favela vizinha, Liberdade.
Para Jadson, esse transporte é muito benéfico, pois dá acesso direto ao bairro da Calçada, onde ficam os comércios com mercadorias mais baratas. Para sua mãe, “foi uma das melhores coisas construídas, pois, melhorou 100% o acesso”.
Além de economizar com as compras, com a gratuidade no transporte e com o tempo, por não ter problemas de congestionamento, Jadson acredita que o plano inclinado viabiliza a mobilidade de cadeirantes e idosos.
Para o designer gráfico, Andy Gonçalves, 23 anos, a implantação do teleférico no Complexo do Alemão, onde mora, também facilitou a mobilidade para as pessoas que residem no ponto mais alto do morro.
Depois que seu funcionamento foi interrompido, há cerca de três anos, ele e a comunidade têm sentido falta do transporte. “O ponto de parada ficava onde a maioria dos ônibus passam, permitindo integração. Quem morava aqui na favela tinha um cartão especial que não precisava pagar”, explica.
Para todos os entrevistados, além da locomoção, esses meios possuem outras funcionalidades. “Também era muito bom para atrair turistas que queriam andar de teleférico para ver a comunidade de cima”, comenta Andy. “É um ponto histórico, a vista é linda, porque além de ver a cidade, você consegue ver a praia, sente o vento batendo no rosto, é algo bem diferente, inexplicável”, conclui Jadson.
Teleférico não soluciona mobilidade no Complexo do Alemão, afirmam morador e especialista
Apesar das facilidades do teleférico, Andy relata que ele não resolve todos os problemas de mobilidade, pois não dá acesso a todos os pontos e os moradores precisam usar outros meios existentes.
Segundo pesquisa intitulada “Mobilidade e projetos urbanos em favelas: o caso do Complexo do Alemão no Rio de Janeiro”, 68% dos moradores entrevistados andam a pé para se deslocar dentro ou para sair do Alemão. Destes, 34% andam somente a pé, 32% andam a pé e de ônibus, e os demais meios utilizados com uma porcentagem muito menor como mostra o gráfico abaixo.
O estudo evidenciou, ainda, que apenas 12% dos moradores da favela eram transportados pelo teleférico; 50% das pessoas que não usavam, apontaram a localização das estações e a dificuldade da topografia do acesso como limitadores.
O arquiteto Pablo Benetti esclarece que é preciso pensar na solução que atenda o maior número de pessoas, tendo em vista que a baixa densidade fica no topo, meia densidade no meio do morro e alta densidade na parte baixa. O plano inclinado, nesse caso, poderia ser mais viável, já que permite paradas intermediárias.
Como o teleférico passa por cima das avenidas, que é onde tem a maior oferta de transporte, não favorece e democratiza a economia e mobilidade local. “O teleférico beneficia, mas não soluciona os problemas. Uma mobilidade plena precisa ser pensada como um sistema, a fim de integrar as modalidades já existentes”, explica.
Ele destaca a necessidade de estudos que apontem as reais demandas da comunidade, pois obras nesse nível tem alto custo, um gasto que poderia ser direcionado a outras prioridades da favela. “As prioridades raramente são definidas com a população, quando o plano já está feito, eles levam para o povo aprovar”.
Andy não se recorda de que a população tenha sido consultada para a implantação e agora que está parada ninguém fornece informação sobre previsão de retorno ao funcionamento. “As estações estão abandonadas e servem como estacionamento dos carros da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), quando poderiam ser usadas para projetos sociais e culturais”, desabafa Andy.
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