Plano inclinado e teleférico impactam na mobilidade da favela

Teleférico parado há três anos dificulta a vida de moradores do Complexo do Alemão - Foto: Mariordo/ Wikimedia Commons

Plano inclinado e Teleférico têm sido alternativas de transporte implantadas em algumas favelas do Brasil para facilitar a mobilidade dos moradores. De acordo com o arquiteto e especialista em urbanização de favelas, Pablo Benetti, ambas ligam a parte baixa de um local a parte alta. O plano inclinado corre junto à superfície do solo, podendo ter paradas intermediárias, e o teleférico interliga os pontos mais altos de uma topografia, que, no caso das favelas, seriam os morros.

Jadson Nascimento dos Santos, 27 anos, estagiário de jornalismo, e sua mãe, Altamira Mello do Nascimento, 64 anos, técnica de enfermagem, moram na favela do Curuzu, na Bahia. Eles utilizam frequentemente o plano inclinado que fica na favela vizinha, Liberdade.

Para Jadson, esse transporte é muito benéfico, pois dá acesso direto ao bairro da Calçada, onde ficam os comércios com mercadorias mais baratas. Para sua mãe, “foi uma das melhores coisas construídas, pois, melhorou 100% o acesso”.

Além de economizar com as compras, com a gratuidade no transporte e com o tempo, por não ter problemas de congestionamento, Jadson acredita que o plano inclinado viabiliza a mobilidade de cadeirantes e idosos.

Jadson e Altamira, usuários do Plano Inclinado Liberdade/Calçada, em Salvador, Bahia – Foto: Arquivo pessoal

Para o designer gráfico, Andy Gonçalves, 23 anos, a implantação do teleférico no Complexo do Alemão, onde mora, também facilitou a mobilidade para as pessoas que residem no ponto mais alto do morro.

Depois que seu funcionamento foi interrompido, há cerca de três anos, ele e a comunidade têm sentido falta do transporte. “O ponto de parada ficava onde a maioria dos ônibus passam, permitindo integração. Quem morava aqui na favela tinha um cartão especial que não precisava pagar”, explica.

Plano inclinado Liberdade/Calçada – Foto: Elevadores Alpha

Para todos os entrevistados, além da locomoção, esses meios possuem outras funcionalidades. “Também era muito bom para atrair turistas que queriam andar de teleférico para ver a comunidade de cima”, comenta Andy. “É um ponto histórico, a vista é linda, porque além de ver a cidade, você consegue ver a praia, sente o vento batendo no rosto, é algo bem diferente, inexplicável”, conclui Jadson.

Teleférico não soluciona mobilidade no Complexo do Alemão, afirmam morador e especialista

Apesar das facilidades do teleférico, Andy relata que ele não resolve todos os problemas de mobilidade, pois não dá acesso a todos os pontos e os moradores precisam usar outros meios existentes.

Andy e o Telelérico do Morro do Alemão ao fundo – Foto: Arquivo pessoal

Segundo pesquisa intitulada “Mobilidade e projetos urbanos em favelas: o caso do Complexo do Alemão no Rio de Janeiro”, 68% dos moradores entrevistados andam a pé para se deslocar dentro ou para sair do Alemão. Destes, 34% andam somente a pé, 32% andam a pé e de ônibus, e os demais meios utilizados com uma porcentagem muito menor como mostra o gráfico abaixo.

Dados sobre meios de locomoção utilizados no Complexo do Alemão – Imagem: Artigo Mobilidade e projetos urbanos em favelas – o caso do Complexo do Alemão no Rio de Janeiro

O estudo evidenciou, ainda, que apenas 12% dos moradores da favela eram transportados pelo teleférico; 50% das pessoas que não usavam, apontaram a localização das estações e a dificuldade da topografia do acesso como limitadores.

O arquiteto Pablo Benetti esclarece que é preciso pensar na solução que atenda o maior número de pessoas, tendo em vista que a baixa densidade fica no topo, meia densidade no meio do morro e alta densidade na parte baixa. O plano inclinado, nesse caso, poderia ser mais viável, já que permite paradas intermediárias.

Como o teleférico passa por cima das avenidas, que é onde tem a maior oferta de transporte, não favorece e democratiza a economia e mobilidade local. “O teleférico beneficia, mas não soluciona os problemas. Uma mobilidade plena precisa ser pensada como um sistema, a fim de integrar as modalidades já existentes”, explica.

Arquiteto Pablo Benetti, especialista em urbanização de favelas – Foto: Arquivo pessoal

Ele destaca a necessidade de estudos que apontem as reais demandas da comunidade, pois obras nesse nível tem alto custo, um gasto que poderia ser direcionado a outras prioridades da favela. “As prioridades raramente são definidas com a população, quando o plano já está feito, eles levam para o povo aprovar”.

Andy não se recorda de que a população tenha sido consultada para a implantação e agora que está parada ninguém fornece informação sobre previsão de retorno ao funcionamento. “As estações estão abandonadas e servem como estacionamento dos carros da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), quando poderiam ser usadas para projetos sociais e culturais”, desabafa Andy.

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