Foto: Luigi Spera

 

saens peña

Por Luigi Spera

Rio de Janeiro. Para quem resolveu jogar a sua própria Copa na rua, prosseguindo com o protesto contra os gastos de dinheiro público para a realização das obras úteis para o show da Fifa no Brasil, o evento acabou como tinha começado: na violência. A manifestação organizada no domingo passado na Praça Saens Peña, foi uma das piores em termo de violência e violações dos direitos humanos para cidadãos e também para os profissionais da imprensa que cobriram os acontecimentos: 15 foram agredidos e feridos.

Depois da chegada na praça, coração da Tijuca, do primeiro protesto do dia, marcado para as 10hs na praça Afonso Pena, os batalhões da Policia Militar do Rio de Janeiro cercaram a área, virada assim para todo o mundo uma cadeia a céu aberto. Já antes da primeira tentativa de tomar a rua por parte das organizações presentes, os militares tentaram provocar uma reação nos manifestantes, para motivar uma ação violenta, sem porém obter, felizmente, nenhuma resposta. Muitos manifestantes e jornalistas, foram revistados e nada de anormal foi achado.

Quando, reivindicando o direito constitucional de manifestar e o direito de ir e vir, cerca 300 pessoas, tentaram de organizar a passeata, houve uma repressão violenta. Gás lacrimogêneo, bomba de efeito moral para dispersar a multidão e criar confusão; depois balas de borracha e agressões físicas para os  manifestantes. Entre a arbitrariedade da conduta de cada PM, deixados livres para decidir como resolver o problema de ordem pública, foi em destaque uma clara estratégia: os cidadãos foram deitados no chão com violência, arrastados, cercados e espancados por dezenas de policiais, sem possibilidade nenhuma de reagir. Foi assim que aconteceu para muitos. A cada episódio era fácil encontrar os policiais comentando entre eles, rindo abertamente, a violência perpetrada.

Em breve, tomando a ‘propriedade’ da entrada do metrô da Saens Peña, os policiais tornaram aquele lugar um centro de punição. E ali que, depois ter corrido atrás dos primeiros que tentaram de fugir das cassetadas, os PMs tiraram alguns manifestantes, assim para poder bater neles, sem risco de ficar gravados nas imagens dos numerosos fotógrafos e cinegrafistas. Os relatos do que aconteceu dentro da estação, além das vitimas que mostraram feridas e marcas, foram feitos por usuários que por acaso ficaram na frente das violências. Traumatizados e assustados pelo que viram com a imprensa presente. Contaram assim as pessoas espancadas pelos cercos de policiais.

Logo depois objetos da repressão viraram contra os mesmos fotógrafos e cinegrafistas. Os profissionais da informação, brasileiros e estrangeiros, obtiveram o mesmo ‘padrão’. Arrastados, espancados e com o equipamento quebrado. Os cassetetes eram apontados direto contra as lentes das câmeras, para que eles não filmassem e tirassem as imagens da violência da polícia militar. No final, a lista dos jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas agredidos chegou ao numero de 15. O caso mais emblemático foi o do cinegrafista canadense Jason O’Haras, espancado por muitos policiais (a cena foi gravada por dois colegas do canadense) e roubado da sua câmera GoPro por um policial. O que gera raiva nas vítimas das agressões gratuitas é que o histórico de impunidade, deixa claro que nenhuma ação violenta não será punida de jeito nenhum.

Alem da violência em si, houve uma gravíssima violação dos direitos humanos e do direito internacional. Por algumas horas depois da manifestação e só depois de um tempo do término do jogo do Maracanã, a praça Saens Peña ficou fechada. Todas as pessoas, inclusive os estrangeiros, e também os moradores da área que passavam lá por acaso, ficaram presos, sequestrados da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, num País ‘tecnicamente’ democrático como o Brasil. E obviamente esse não será objeto de investigação e ninguém será impunido.

As ruas do Rio de Janeiro, como as das favelas desde sempre, serão destinados a ficar ainda mais manchadas de sangue inocente. Até quando?