“Vencer o tabu da educação sobre menstruar é um desafio maior que a distribuição de absorventes ou coletores. Educação menstrual é um assunto para meninas, meninos e adultos. A menstruação é tema de saúde pública, de economia e direitos humanos”, explica a educadora e criadora do coletivo “Igualdade Menstrual”, Andressa Andrielli do Carmo.
Maria Tarcisa de Oliveira menstruou a primeira vez aos 13 anos na escola. “Eu estava com uma dor de barriga muito forte, fui ao banheiro e vi sangue na minha calcinha, coloquei muito papel higiênico e não contei para ninguém. Quando cheguei em casa, fui direto falar para minha mãe. Fomos à farmácia comprar absorventes, e eu lembro que estava com muita vergonha”, relata Maria, hoje com 15 anos.
Joana Oliveira, mãe de Maria e de mais duas meninas, diz que menstruar é difícil para todas as mulheres da casa. “O problema maior não é a cólica, e sim trocar o absorvente na rua. Eu sou gari e não há banheiros públicos na cidade, e poucos restaurantes deixam a gente entrar. Além disso, o preço do absorvente também está cada vez mais alto. Aqui em casa somos três, um pacote para cada dá o ônibus da semana inteira”, explica Joana, única responsável financeira por um lar de cinco pessoas.
A realidade da família Oliveira em Curitiba não é um caso isolado no Brasil. De acordo com o estudo “Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdade e violações de direitos”, realizado pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), 713 mil meninas vivem sem banheiro ou chuveiro em seu domicílio e mais de 4 milhões não têm acesso a itens mínimos de cuidados menstruais nas escolas.
O estudo também mostra a falta de serviços básicos essenciais para garantir a dignidade menstrual. Nele, evidenciou-se que cerca de 900 mil mulheres não possuem água canalizada em seus lares e 6,5 milhões vivem em casas sem ligação à rede de esgoto. Todo esse contexto somado à falta de educação sobre o próprio corpo de quem tem útero e sobre menstruação definem pobreza menstrual.
“Ainda segundo a educadora Andressa, a classe social e o acesso à educação não impedem o desconhecimento do próprio corpo e do ciclo menstrual. “Mulheres instruídas perguntam se é preciso retirar o coletor para urinar, muitas ficam desconfortáveis em tocar o próprio o corpo. São muitas as barreiras que surgem por não haver educação menstrual e sexual”, complementa.
Em maior ou menor grau, a menstruação vai afetar a vida de todas as pessoas que a vivenciam, sejam elas adolescentes, mulheres cis ou homens trans. O tabu da menstruação vem de uma violência estrutural, ainda abarcada pela violência de gênero.
“Os absorventes, por exemplo, que são itens essenciais, não são considerados parte da cesta básica de higiene. Durante a pandemia eles têm tido impacto direto na renda de milhares de famílias e afetam também a dignidade. É necessário pensar o ciclo menstrual como uma política pública, já que 1,8 bilhão de pessoas passam por isso todo o mês, em todo o mundo. Garantir o acesso e a educação sobre a menstruação é pensar em direitos humanos”, finaliza a professora Andressa.
matéria publicada originalmente no jornal A Voz da Favela edição de Agosto
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