Poema da ancestralidade

Créditos: Raquel Mendonça

À Marielle Franco

Hoje acordei com um soco na boca do estômago

A notícia resvalou em mim com estilhaços de náuseas

Eu já sabia… Há tempos a ancestralidade é negada

Antes com chibata, mas nos dias atuais

uma guerreira é alvejada à bala em plena aldeia bipolar

Prova de que a bestialidade humana avança e é congênita,

quase geral

O estado democrático de direito tem suas cercanias

A negrada, a favela, o homossexual,

o poema marcado de sonhos não tem vez

Dar voz aos que não têm voz é perigosamente tenaz

Eu tenho sonho: que esse tiro tenha saído pela culatra.

E que este grito ecoe na multidão de mouros:

– somos loucos pela igualdade!

Poema publicado na edição de junho de 2018 no jornal A Voz da Favela.