Em 2017, um movimento de protesto através da arte surge no Brasil, misturando hip hop, rap e literatura negra. Um recital de poesia combativa, com letras de protesto denominado Poetas Vivos. Ele ganha forma no Rio Grande do Sul e, aos poucos, vai conquistando o Brasil, promovendo campeonatos de rua com disputas de rimas e letras. Da necessidade de potencializar artistas negros invisibilizados, o movimento hoje acontece também no Acre, na Bahia, em Santa Catarina e no Rio de Janeiro. No Rio, o movimento fica por conta dos poetas Maui, Carmen Kemoly, Blue Oliveira, DaCosta, Kaya e Jomboh.
Sobre o processo criativo dos textos que apresentam, Maui pontua que todos do grupo vieram da cultura de Slam, que se inicia nos Estados Unidos e depois se populariza no Brasil. O poeta diz que cada integrante já tem textos de sua autoria e, quando o grupo se reúne, acontece o que chama de “terrorismo lírico”: uma poesia conjunta marcada por texto e corporeidade, que tem como ênfase reafirmar pontos principais como o empoderamento do povo negro, denúncias das mazelas de exploração e racismo, violência policial, desigualdade social, entre outras coisas.
– A gente já escreveu sobre algo que aparentemente nem aconteceu ainda, mas, na verdade, é só a realidade do nosso povo se repetindo: pessoas sendo assassinadas exatamente pela cor da pele, por exemplo – declara.
O grupo Poetas Vivos se apresenta em escolas e entende que tem uma responsabilidade ao falar com crianças e adolescentes. Para eles, a poesia marginal (ou combativa) é uma forma de democratizar a arte. Esse é um movimento literário em que a poesia é focada no corpo marginalizado, seja mulher, negro, LGBTQI+, e, portanto, é democratizador da arte por dar voz aos silenciados e aceitar os desautorizados socialmente.
* Matéria publicada no jornal A Voz da Favela, Rio de Janeiro, dezembro 2019.