A cada quatro horas uma pessoa negra foi morta pela polícia, em 2022, nos oito estados monitorados pela Rede de Observatórios da Segurança. O dado é revelado pelo boletim Pele Alvo: a Bala não Erra o Negro.
Nele são analisadas informações sobre a cor da letalidade gerada por ação policial. Os dados foram obtidos junto a secretarias estaduais de segurança pública de Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo via Lei de Acesso à Informação (LAI).
Os números reais podem ser ainda maiores – tanto pela subnotificação de casos como pelo não registro de dados sobre cor e raça, que ocorre principalmente em três estados: Maranhão, Ceará e Pará.
Considerando os dados oficiais disponíveis, eram negros 87,35% (ou 2.770 pessoas) dos mortos por agentes de segurança estaduais em 2022. Como nos estudos anuais precedentes, o novo monitoramento da Rede de Observatórios da Segurança demonstra o alto e crescente nível da letalidade policial contra pessoas negras.
No ano passado, a Bahia ultrapassou o Rio de Janeiro no número de casos registrados nos estados incluídos no estudo. Bahia e Rio foram responsáveis por 66,23% do total dos óbitos.
Atuação policial continua racista
Neste novo boletim Pele Alvo, a Rede de Observatórios aumentou a área analisada, com a inclusão do Pará, o primeiro da Região Norte na amostra. No ranking de 2022, o Pará já se coloca como o segundo estado com maior percentual de negros mortos em operações policiais, com 93,90% dos casos.
A Bahia ficou em primeiro lugar, com 94,76%. Note-se que na Bahia a população negra significa 80,80% do total e no Pará, 80,46%. Rio de Janeiro e São Paulo também chamam a atenção pela alta letalidade de pessoas negras por agentes de segurança.
No Rio de Janeiro, 54,39% da população é negra, mas o número de óbitos representa 86,98%. Em São Paulo, cuja população inclui 40,26% de negros, as mortes destas pessoas por policiais somam 63,90% do total.
Rio de Janeiro
Os agentes de segurança do Rio de Janeiro mataram 1.042 pessoas negras em 2022 (86,98% dos casos com informações completas de cor e raça), sendo o segundo estado com mais mortos pela letalidade gerada por policiais. A cada oito horas e 24 minutos uma pessoa negra morreu em decorrência de intervenção policial.
O estado caiu da primeira para a segunda posição do ranking das unidades federativas com maior número de mortes por agentes de segurança, embora tenha crescido o número total de óbitos – de 1.214 em 2021 para 1.330 em 2022 –, o que reafirma a rotina de medo vivida em favelas e periferias fluminenses. Apenas na capital, foram registrados 33,40% dos casos fatais, com 444 mortes, seguindo-se a região de São Gonçalo, com 131 casos.
Bahia
Em 2022, a Bahia, pela primeira vez, chegou ao topo do perverso ranking dos estados que mais matam pela ação de agentes de segurança, com um total de 1.465 vítimas. A escalada da violência na Bahia, sob a cortina da guerra às drogas, principal motivação das operações policiais, tem chamado a atenção.
Entre 2015 (quando o estado registrou 354 mortes) e 2022, houve um aumento de 300% nessa taxa de letalidade, que atingiu principalmente jovens negros. A população negra representou 94,76% do total de mortos por agentes de segurança em 2022, sendo a maioria (74,21%) com idade entre 18 e 29 anos.
Apenas Salvador registrou a morte de 438 pessoas, sendo 394 negras.
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