Na mesma semana em que o Supremo Tribunal Federal reprovou o dossiê com nomes de policiais de diversos níveis e corporações que figuram entre os antifascistas, muito desses agentes disseram que são alvos de investigação, demissão de cargo de confiança, sindicâncias administrativas, exclusão em seleção para instrutores de cursos de formação ou transferência para a reserva.
Os integrantes do grupo chamado “policiais antifascismo” atribuem esses fatos à participação no movimento, monitorado pelo governo federal. De acordo com um estudo recente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 41% dos PMs de baixa patente no país são bolsonaristas, e 12% endossam pautas mais radicais, como o fechamento do Congresso e do STF.
O risco de perseguição apontado pelos ministros do Supremo não é uma ameaça, mas sim um fato, segundo relatos. O dossiê sobre os antifascistas lista mais de 500 policiais e atribui a eles um risco de violência, inclusive com a possibilidade de atuação de “black blocs” em eventuais protestos contra Bolsonaro, apesar de não haver qualquer relato nesse sentido.
Uma policial foi exonerada de um cargo de confiança na Superintendência da Bahia da Polícia Rodoviária Federal, onde era chefe do setor de análise técnica, o equivalente a uma assessoria jurídica, e perdeu o cargo menos de um mês depois de assinar o manifesto mais robusto até agora dos policiais antifascismo.
Nos estados, a atuação dos policiais antifascistas também é alvo de vigilância e de ações de investigação e exclusão de promoções na carreira. Para esses policiais — a maioria fala na condição de anonimato por temer mais represálias —, trata-se de perseguição e retaliação. Eles relatam pressão dos próprios colegas de farda alinhados ao bolsonarismo.