Cresce a pressão política para que Jair Bolsonaro volte dos Estados Unidos e enfrente as perguntas feitas nos corredores da polícia e da justiça sobre o tamanho da sua participação nos planos golpistas deflagrados já a partir dos acampamentos às portas dos quartéis, entre os quais o Quartel General do Exército em Brasília.
A avaliação geral no meio é de que o Partido Liberal, onde o ex-presidente se encontra desde antes das eleições, não mostra a disposição de antes em acolhê-lo e cuidar do seu futuro. Valdemar da Costa Neto, presidente da legenda, chegou a prometer a Bolsonaro emprego, escritório da sede e mansão para morar em Brasília, mas alguns meses depois retirou a proposta alegando que ele seria preso quando voltasse ao país.
A oitiva do ex-ministro da Justiça Anderson Torres não deverá apresentar resultados práticos para a polícia, dada sua vinculação estreita com o ex-presidente da República, repetindo a audiência de custódia feita online, que não passou de sua identificação e qualificação para efeito de cumprimento do mandato de prisão.
A percepção cada dia mais geral nos meios políticos e jurídicos brasilienses é que ele é a única peça que falta para completar o quadro de personagens para desvendar o papel de cada um na trama. Inclusive a supervisão, orientação e direção de militares da ativa, desde os que defenderam com unhas e dentes os acampamentos (mesmo depois da detecção da bomba perto do aeroporto JK) até os de maior cargo, com funções dentro do Palácio do Planalto, entre eles o general Augusto Heleno, maior entusiasta do golpe.
Ao “Fantástico” da TV Globo, o interventor federal na segurança da capital, Ricardo Cappelli, disse que mais de 40 policiais militares (dentre os que de fato combateram os invasores) foram feridos e que havia terroristas treinados e preparados para a missão de ocupar espaços e prédios. A informação se soma ao fato do gerente de posto de gasolina no Pará George Washington Oliveira ter sido preso com explosivos e uma bomba armada para explodir nas proximidades do aeroporto da capital.
As táticas e técnicas empregadas pelos golpistas são muito semelhantes às dos militares que promoveram explosões em bancas de jornais e no Riocentro (Rio de Janeiro) nas décadas de 1970/80, em protesto contra a abertura democrática promovida pelo próprio ditador da época, general João Batista Figueiredo. E se situam no início do movimento que levou ao surgimento do Partido dos Trabalhadores e do então líder sindical metalúrgico Luíz Inácio da Silva, o Lula.
Bombas e greves, anistia e Assembleia Nacional Constituinte, reorganização partidária e o fim da legislação de exceção, todos esses fatos e eventos formaram o caldo de cultura que facilitou tanto o fortalecimento da esquerda quanto o recrudescimento da direita contrária a liberdades, direitos humanos, igualdade social, tudo enfim que traduz o arcabouço da sociedade democrática desenvolvida. Por isto aqui está o Brasil à espera do retorno de Jair Bolsonaro da Flórida para assumir a responsabilidade que lhe cabe nos acontecimentos recentes.