A vulnerabilidade da população cigana no Brasil triplicou durante a pandemia. De acordo com a Assessoria de Direitos Humanos – Promoção da Igualdade Étnico Racial do Estado do Paraná, cerca de 43 mil ciganos, divididos em mais 112 culturas mora no Paraná.
Não há um balanço oficial sobre as condições, mas segundo o Instituto Cigano no Brasil (ICB), o analfabetismo e falta de acesso a políticas educacionais é a principal barreira para as comunidades ciganas do Estado.
“Quando cobramos políticas públicas para nossa população somos obrigados a ouvir de gestores públicos que ciganos dançam, cantam e são nômades e, por causa da nossa cultura, não é possível nos proporcionarem educação e condições dignas de existir”. Relata Rita Sinti.
Ainda segundo Rita a itinerância da cultura é usada como argumento para não amparar ciganos que buscam por seus direitos. Ela relata que muitas vezes apenas pelas roupas utilizadas ou após relatarem que moram em acampamentos os agentes públicos barram o cadastro ou não sabem como ajudar.
“A Secretaria da Família e Desenvolvimento Social – SEDS – PR está despreparada para atender as famílias que procuram ajuda. Eu mesma já ouvi de um agente comunitário que se eu matriculasse minha filha em um CMEI as professoras chamariam o conselho tutelar para tirar minha filha de mim. Todas as nossas crianças são saudáveis e inteligentes e não estão em perigo, sofremos muito com o analfabetismo gerado pela impossibilidade das matriculas em escolas”. Explica Rita.
O caso relatado por Rita não é exceção, Luciano Rom, de 28 anos é do mesmo conselho de igualdade racial da cidade de Dois Vizinhos no interior do Paraná e conta que das 14 famílias ciganas que estão na cidade há mais de cinco anos apenas três foram cadastradas no CadÚnico (Cadastro Único para Programas Sociais), programa que identifica e caracteriza as famílias de baixa renda como aquelas cuja renda mensal é de até meio salário-mínimo por pessoa. “Existe uma má vontade ao atender povos ciganos, constantemente os agentes nos perguntam quando vamos embora da cidade, ou não nos direcionam para onde precisamos. Eu sou gay e HIV positivo e ter qualquer tipo de atendimento é muito difícil apenas por eu ser cigano”. Afirma Luciano.
Ruan Augusto Rom de apenas 12 anos, parou de estudar antes da pandemia. A desistência foi motivada por diversas violências vindas de colegas e professores. “Todo dia me chamavam de ladrão, debochavam da minha cultura e me batiam. As professoras nunca falavam sobre a minha cultura ou se quer deixavam que falasse. Uma vez também a diretora também falou que meu povo veio do inferno. Eu tirava boas notas, mas não aguentei passar por isso todos os dias e desisti.” relata Ruan.
No Estado do Paraná, conforme dados fornecidos pela Secretaria da Família e Desenvolvimento Social – SEDS (2018), foram identificadas famílias ciganas em 36 municípios paranaenses: Apucarana, Arapongas, Araucária, Assis Chateaubriand, Boa Esperança, Cambira, Campo do Tenente, Campo Largo, Campo Mourão, Cascavel, Cerro Azul, Colombo, Colorado, Contenda, Cornélio Procópio, Curitiba, Goioerê, Guaíra, Guamiranga, Irati, Itaguajé, Juranda, Londrina, Mariluz, Maringá, Mato Rico, Moreira Sales, Pato Branco, Piraí do Sul, Ponta Grossa, Quarto Centenário, São José dos Pinhais, Sengés, Tapejara e Ubiratã.
Ao total são 42.914 pessoas em todo estado, desses, mais de 14 mil são crianças em idade escolar que estão fora da escola. Os povos ciganos fazem parte dos conselhos municipais, estaduais e federais, para que a situação mude, eles participam de feiras e seminários que possam ensinar a população sobre sua cultura e assim diminuir o preconceito.
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