As medidas de isolamento social têm provocado diversas reações da população brasileira, desde a defesa incisiva da paralisação das atividades, até a possibilidade de flexibilizar os decretos restritivos. O debate sobre o “consenso” de saúde e economia parece ter alcançando diversos setores da sociedade, indo principalmente ao encontro daqueles que se veem mais desamparados na crise da pandemia.
Esse é o caso de Maria Hildenia Duarte,49 anos, comerciante, moradora do Parque Muisa, Duque de Caxias. Na sua visão, a melhor alternativa para o combate ao novo coronavírus seria o isolamento vertical, basicamente apenas aqueles inseridos no grupo de risco ficariam em casa. Ela também levanta a discussão sobre as pessoas que não respeitam o distanciamento social, reafirmando a sua posição sobre a necessidade de uma restrição que se aplique apenas ao grupo de risco.
“Na realidade, não existe isolamento social, onde tem vizinho fazendo churrasco com bebedeira. O que adiantou decretar o isolamento social, se não cumprem? Existe isolamento social para o grupo de risco, nesse grupo há necessidade”.
Hildenia também demonstra indignação sobre como sobreviver durante a pandemia, questionando o fato de que as pessoas precisam se sustentar, mas também faz ponderações sobre os cuidados que se deve ter. Dentro da lógica do isolamento vertical, ela prossegue:
“Não sou contra ficar em casa, mas tem que ficar em casa o grupo de risco e o restante que pode produzir deve voltar a trabalhar urgente. Com consciência e tendo todos os cuidados para não prejudicar ninguém. Se não morrermos da doença, vamos morrer de fome. O país já está em colapso e vai piorar.
Percepção diferente da realidade possui Claudia Costa, comerciante, 25 anos, Duque de Caxias. O isolamento social deve ser mantido por se tratar de uma recomendação do Ministério da Saúde e de órgãos internacionais. Claudia faz uma comparação com a questão da segurança publica para embasar o seu raciocínio:
“Se o Ministério da Saúde pede para que haja o isolamento, por que eu vou passar por cima da ordem? Se o ministério da segurança um dia falar que não é mais seguro ficar fora de casa a partir das 20:00, eu ficando na rua estou ciente que pode acontecer algo, então é tolice. Acho que ordens e leis servem para isso”.
Integrando um raciocínio análogo ao de Claudia, Paola de Souza Batista, 20 anos, estudante, Duque de Caxias, é favorável à manutenção do isolamento horizontal, vê com certo ceticismo a defesa da flexibilização defendida por critérios econômicos e vai além:
“Os empresários parece que estão descobrindo agora que a classe operária é a que tudo produz. Então, estão desesperados porque parece que quanto mais rico é mais medo de ficar pobre tem. Então, ele não quer ficar “menos rico”, por isso fica tentando acabar com o isolamento social, porque sabe que assim os seus funcionários vão poder voltar a trabalhar e ele não vai ter uma queda na ‘economia’. Então prefere pôr em risco os seus trabalhadores, do que prestar auxílio, entender a situação que estamos vivendo, preservar a saúde dos seus funcionários e depois, com o tempo, reerguer a sua economia novamente com todo mundo saudável, com todo mundo bem.”
Paola também defende um estado mais atuante durante esse período de calamidade pública e faz uma crítica sobre o valor ínfimo do auxílio emergencial. Na sua visão essa quantia não condiz com a realidade da população.
“Quem deveria prover condição boa, diante de uma situação tão precária, uma situação global, é o estado. Infelizmente eles acham que apenas 600 reais podem dar conta de tudo”.
A questão do amparo estatal é uma necessidade que a população continua a levantar, mesmo entre aqueles que defendem a flexibilização das regras de isolamento. Helena Cordeiro Rodrigues de Araujo, 24 anos, professora, Duque de Caxias, compreende a gravidade da situação, mas também traz o foco para o fator da fome e do sustento das famílias.
“É uma questão complicada, mas realmente é necessária uma flexibilização, porque muitos precisam trabalhar e se não o fizerem enfrentarão outros problemas, como a fome e contas atrasadas.“
Helena também vê como a carência de atuação do poder público pode prejudicar a saúde da população, principalmente daqueles mais vulneráveis. Ela fala sobre a urgência de contratar funcionários, providenciar recursos e dar um maior suporte para área da saúde:
“Deveria pagar melhor seus funcionários e sem atrasos, providenciar melhores recursos para eles trabalharem, além da contratação de mais mão de obra para somar às equipes já existentes”.