Em meio a manifestações pró e contra o presidente Jair Bolsonaro em São Paulo e Brasília, no Rio de Janeiro os protestos foram contra a violência policial que tem matado quase diariamente civis desarmados em favelas e periferias, em nome da “guerra às drogas” que já se mostraram ineficazes em todo o mundo. A vítima mais recente foi Matheus Henrique Oliveira da Silva, de 23 anos, morto com um tiro na cabeça na entrada da favela do Borel, na Zona Norte, na madrugada de sábado.
Emblematicamente, a mesma Polícia Militar que também fazia a segurança do Palácio Guanabara, sede do governo fluminense e onde manifestantes se reuniram desde o meio da tarde deste domingo, 31, foi flagrada por um cinegrafista quando apontava a arma para outro rapaz indefeso. Faixas e cartazes foram empunhados, com dizeres semelhantes aos dos vistos nos últimos dias nos Estados Unidos, sob o lema geral “vidas negras importam”.
Thaís Ferreira, uma das manifestantes, resumiu o protesto em sua página no Facebook: “Nem Coronavírus, nem polícia do Rio de Janeiro, nossa combinação é de não morrer. Então, por isso, fomos hoje mascarados, distantes, protestar na cara do governador pra dizer que não é mais possível que crianças pretas, assim como João Pedro sigam morrendo. Os americanos também nos lembram disso, o grito aqui e lá é o mesmo: vidas negras importam!”
Renato Nascimento, colaborador da ANF, acompanhou a movimentação: “A manifestação seguia tranquila e pacífica, placas eram erguidas e palavras de ordem eram gritadas. Por volta das 16 horas a manifestação, que havia fechado a Rua Pinheiro Machado, seguiu em dispersão pela Rua Paissandu com apoio dos moradores do bairro de Laranjeiras em suas janelas. Seguiu até o cruzamento da Rua Marquês de Abrantes onde parou e pacificamente voltou ao Palácio Guanabara para encerrar o ato. O grupo estava reduzido comparado ao inicio e mesmo sem fechar a rua foi recebido com bomba de efeito moral, bala de borracha e gás de pimenta sobre corpos pretos. O saldo final foram inúmeros feridos um preso e o sentimento de revolta e impunidade cada vez maior, porque ao contrário dos EUA os responsáveis pelas mortes das ultimas semanas de João Pedro, João Vítor, Rodrigo da Conceição, da chacina do alemão só pra citar as ultimas duas semanas, seguirão impunes e o grito de protesto seguirá abafado. Mas não desistiremos continuaremos a luta pelos nossos básicos direitos de sermos humanos e de seguirmos vivos”.
Mais cedo, em Copacabana, a torcida organizada Fla Antifascista fazia manifestação pacífica quando encontrou uma manifestação a favor do presidente Jair Bolsonaro e deu início a uma confusão. Segundo relatos, a polícia utilizou spray de pimenta para dispersar os torcedores flamenguistas. Depois, um outro grupo que protestava pela igualdade racial entrou em conflito com bolsonaristas no mesmo local.
Em nota, a Polícia Militar disse que acompanhou uma aglomeração de pessoas que aconteceu na orla de Copacabana e, durante o ato, houve um princípio de confusão entre os participantes de dois grupos antagônicos. Duas pessoas foram conduzidas para a delegacia.
Na capital paulista, as manifestações foram contra e a favor de Bolsonaro, reunindo no mesmo coro corintianos e palmeirenses a favor da democracia, confrontados por apoiadores do presidente, com bandeiras de cunho nazista. O resultado foi uma confusão generalizada que culminou com a interferência policial, bombas de gás e spray de pimenta.
Já em Brasília, houve passeata, carreata e até cavalgada com a participação do presidente, que voltou a desafiar as regras de isolamento social. Cumprimentou, abraçou, acenou, sorriu sem máscara para apoiadores, montou a cavalo, posou pra fotos, no ato em seu apoio contra o Supremo Tribunal Federal.