Pra não dizer que não falei das flores

Créditos - Midiã Ninja

No dia 23 de outubro, faltavam 120 horas para as eleições. O Brasil nunca viveu uma disputa presidencial como essa. Dessa vez, não são dois partidos disputando. São duas ideologias. É a repressão, disfarçada de mudança, contra a liberdade, acusada de corrupção. Quem vota em um faz questão de encontrar crimes no outro. E assim, a eleição da acusação segue: eleitores intolerantes lutam contra os militantes e cada nova notícia estampada pela mídia sensacionalista é arma para um dos lados. Mesmo em meio à toda essa guerra, Fernando Haddad e Manuela d’Ávila permanecem firmes e fortes na campanha “o povo feliz de novo”. Na terça-feira, 23, eles estiveram na Maré, com a mãe de Marcus Vinícius, de 14 anos, morto em junho por policiais no Complexo. Num discurso emocionado, Bruna da Silva disse “meu filho estava no lugar certo e na hora certa. A culpa não é nossa, a culpa não foi do meu filho. A culpa foi daquela polícia civil com o nome de operação vingança. A minha luta é de todos. A Maré resiste, a Bruna resiste, Marielle resiste!”. Manuela, levantando uma placa com o nome de Marielle Franco, disse que, junto com Haddad, forma a chapa da vida. “Esse segundo turno é sobre democracia e liberdade, mas para as mulheres, pros negros e pras negras, pra população de periferia é sobre vida. É sobre o direito dos seus filhos estarem vivos. É sobre o direito da gente circular e existir em qualquer espaço que seja. Que olhemos para as outras mães como nós e perguntemos se elas querem seus filhos de 4 ou 5 anos com armas na mão. Nosso país já tem armas demais e crianças já morrem. Precisamos mostrar que Bolsonaro é a arma na mão de todos os que nos matam; não é segurança”. Saindo da Maré, a chapa foi aos Arcos da Lapa juntar-se às cerca de 70 mil pessoas que aguardavam o discurso de Manu, Haddad e artistas como Chico Buarque, Caetano Veloso, Marieta Severo, Juliana Alves e vários outros que falaram sobre a importância da democracia. Nos bastidores, nossa equipe entrevistou Guilherme Boulos, candidato à presidência pelo Psol no primeiro turno.

Créditos – Léo Diniz

Quando perguntado se o mais assustador é Bolsonaro ou o eleitor dele, o psolista responde que “Bolsonaro representa o que há de pior na sociedade brasileira. O eleitor dele muitas vezes é uma pessoa que tá desiludida, descrente da política e que acabou sendo levado pela onda de mentiras que Bolsonaro representa”. Além disso, Boulos acredita que Haddad só poderá governar para o povo no Brasil se revogar a PEC 241, aprovada por Temer, que congela os gastos do governo por 20 anos, o que inclui investimentos em saúde e educação. Com Manuela d’Ávila, conversamos sobre como extinguir a desigualdade de gênero. Ela responde que “são muitas as pautas que devem melhorar, principalmente no mundo do trabalho porque o trabalho é o que exclui economicamente as mulheres porque evidencia a necessidade de políticas públicas pras crianças porque toda estrutura de cuidados é delegada às mulheres e esses cuidados são saúde, educação, aquilo que movimenta o mundo, então falta muita coisa pra ter igualdade”.

Créditos – Emy Lobo / Mídia Ninja

Sobre Bolsonaro, a vice de Haddad disse que ele deve assustar o Brasil inteiro pela ameaça que representa. Essa ameaça, inclusive, foi dita como “sufocante” pelo rapper Criollo. Quanto ao futuro, ele disse que é necessário ter força para suportar o porvir e que o medo não pode vir à tona. A atriz Guta Stresser também conversou conosco e se disse esperançosa quanto à virada de Haddad. Ela acredita que a arte é a maneira como expressamos nossas emoções e fazermos críticas e, por isso, é essencial que os artistas estejam unidos nesse momento. O ato da virada certamente marcou uma geração. Marcou quem luta por um Brasil melhor e quem sonha com a mudança para o bem. O ato da virada virou, no mínimo, um abraço entre todos os que ainda têm esperança. Ah, e pra não dizer que não falei das flores, ao final dos dois atos, tanto o da Maré quanto o da Lapa, Haddad e Manu distribuíram rosas entre os presentes, pois o que há de passar pelas mãos das pessoas é o amor, não o ódio.

Créditos – Léo Diniz