Foi lançado na última terça-feira, 11, pelo Fórum de Pré-Vestibulares Populares do Rio de Janeiro, um manifesto a favor do cancelamento do Enem. Nele é afirmado que o mês de janeiro não foi a opção escolhida pela maioria dos estudantes em enquete realizada pelo MEC. “Entendendo que, para os/as estudantes das escolas públicas será impossível uma adequação a este novo calendário sem nenhuma possibilidade de estudos remotos (dadas as dificuldades de acesso, de falta de tecnologias apropriadas e internet de qualidade para tanto) ou presenciais (dado o necessário isolamento)”, diz o texto do manifesto. Assinam até o momento, 36 prés comunitários, entre eles o da Agência de Notícias das Favelas.
Mesmo sendo produzido pelo Fórum de Pré-Vestibulares Populares do Rio de Janeiro, o manifesto permite a assinatura de pré comunitários de todo o Brasil. Para também fazer parte do manifesto basta entrar em contato com o Fórum. O texto aborda as diversas dificuldades enfrentadas pelos alunos, em sua maioria moradores das partes mais pobres do estado do Rio e do Brasil. Abaixo, a sequência completa do manifesto:
“Não há diálogo com um governo que não respeita os/as estudantes, suas vidas, suas famílias e uma pandemia que já matou cerca de 100 mil brasileiros! Pelo cancelamento do Enem e contra a política educacional do MEC! Mil mortes por dia. Escolas fechadas desde Março com pouquíssimos dias de aulas. Alunos/as em situação de crise financeira com responsáveis sem emprego, ou sendo explorados por salários miseráveis antes mesmo de uma crise sanitária. Ensino baseado na internet que o povo nunca teve acesso digno. Exclusão aumentando, desemprego explodindo. Exploração dos/as trabalhadores de entrega, muitos deles estudantes jovens de periferia. Mil mortes por dia.
Para o governo a vida parece normal. O presidente, mesmo com vírus, desfila na rua, abraça, toca seus seguidores. Não há política governamental para a Saúde. Não há sequer ministro da Saúde. Por que para a educação finge-se que está tudo normal? O aluno que tinha dificuldades para estudar diante de um/a professor/a em sala de aula vai solucioná-las através de uma tela? De um plano de internet que não tem? De um computador ou notebook que não possui? De um ambiente apropriado de estudos em sua casa que eles não dispõem?
A manutenção do ENEM, nesse contexto, configura um brutal ataque à popularização da educação. Nessa mesma linha de sabotagem, os governos estaduais e municipais avançam projetos genocidas de retorno às aulas presenciais; e nas universidades públicas, avança o projeto essencialmente excludente da normalização do Ensino Remoto. Estes ataques, junto com a manutenção do ENEM, configuram mais uma das inúmeras faces de aprofundamento da miséria e da desigualdade para a qual a pandemia tanto tem servido no Brasil, precarizando ainda mais a educação pública e a realidade de seus estudantes e trabalhadores.
Seguimos na irracionalidade fingindo educar, fingindo formar. O vestibular, diante do que assistimos, passou a ser um sonho adiado, uma preocupação que não precisa consumir mais tempo dos/as nossos/as estudantes. Há necessidades maiores. Um/a jovem da favela e da periferia já enfrenta problemas na dita normalidade, o cotidiano já se coloca difícil. Em tempos de pandemia, esta dificuldade só aumenta, pois as operações policiais, por exemplo, não cessaram, como determina o STF, e a preocupação com sua vida, com sua sobrevivência, ante a Covid-19, é o que os move e nosso papel neste momento, como educadores populares e comunitários, é apoiá-los nisso!
Nossos prés, populares e comunitários desde sua essência, hoje se movimentam em campanhas de solidariedade para arrecadar cestas básicas, materiais de higiene e limpeza para amenizar uma das maiores preocupações de nosso alunado e de suas famílias: a fome. Se houvesse Estado presente, no sentido de cumprir com as obrigações básicas e suprir as necessidades do povo na maior pandemia de nossas gerações, nós poderíamos estar fazendo outras formas de trabalho com caráter voltado para assistência psicológica e outras ações.
Ao invés disso, o governo vem gastando um capital absurdo em cloroquina, milhões desviados em recursos que deveriam ser usados no Sistema Público de Saúde, e poderiam suprir essas angústias ditas acima. Mas como dissemos: não há respeito.
Os estudantes escolheram as datas de Maio e elas venceram a enquete criada pelo próprio MEC. O mesmo governo passou por cima desta escolha. Portanto, decidimos que não deve haver mais diálogo, não podemos confiar em mais nada que vier de Brasília. Não há sequer condições sanitárias de reunir milhões de nossos/as estudantes em Janeiro para a realização das provas e Maio segue ainda improvável porque, afinal, seguimos com mil mortes por dia. Até quando?”
Os 36 Pré-Vestibulares comunitários que assinam o manifesto são: Pré-vestibular Comunitário Machado de Assis (Providência), Pré-vestibular Popular Construção (Manguinhos), Pré-vestibular Ação Direta em Educação Popular – ADEP (Mangueira), Pré-Universitário da Biblioteca Engenho do Mato, Pré-vestibular ANF (Agência de Notícias das Favelas), Preparatório Construindo o Saber, Pré-vestibular Comunitário São José (Campo Grande), Preparatório Comunitário Paulo Freire (Belford Roxo), Ressignificando Olhares (São Gonçalo), Preparatório Social Estudando Para Vencer, Só Cria – Pré-vestibular Popular da Rocinha, VIVE – Vila Isabel Vestibulares, Rede Emancipa de Educação Popular – RJ, Movimento de Organização de Base – RJ Pré-vestibular Comunitário Solidariedade, Pré-vestibular São Francisco de Paula, Projeto Formadores de Futuro,Pré-vestibular Comunitário do CEASM (Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré), Pré-vestibular Comunitário Brota na Laje, Movimento de Organização de Base – PR, Movimento de Organização de Base – MG, Preparatório Social Estudando para Vencer, Mulheres na Resistência – RJ, Nica Jacarezinho – RJ, Pré Universitário Barros Terra – HUAP UFF, Pré-vestibular Popular Educação para o Desenvolvimento Social, Pré-vestibular Popular /Instituto de Formação Humana e Educação Popular, Pré-vestibular Popular Bosque dos Caboclos (Campo Grande/RJ), Pré-vestibular Social Edu Leocádio (São João de Meriti), CEPI – Centro de Educação Popular Inhaúma, Ação Comunitária da Zona Oeste – ACAZO, Pré-vestibular Comuns Batan – Realengo, Pré-vestibular Social Barros Terra – Medicina UFF, Pré-vestibular Popular do Cerro Corá – RJ, CAp Popular – Curso Preparatório Popular, Pré-vestibular Social Ação e Pré-vestibular Comunitário Nós por Nós – Por uma educação emancipadora nas periferias.