No dia da Consciência Negra, a Prefeitura do Rio, através do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), chancelou o Cais do Valongo como patrimônio cultural da cidade. Também nesta quarta-feira (20.11), representantes da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) também consideraram o sítio arqueológico como parte da Rota dos Escravos. Foi o primeiro lugar no mundo reconhecido pela Unesco. O evento reforçou ainda mais a intenção da cidade de lançar a candidatura do Cais do Valongo a patrimônio mundial.

Nos últimos dois dias, a sede da Academia Brasileira de Letras recebeu a reunião do Comitê Científico Internacional do Projeto Rota do Escravo da Unesco. O Brasil é representado pelo antropólogo e fotógrafo Milton Guran. Neste encontro, os integrantes sugeriram o lançamento da candidatura do sítio arqueológico como patrimônio mundial.

Após a inauguração das placas, os integrantes do Comitê da Unesco, que reúne representantes de mais de 20 país, percorreram o Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africa. Além do Cais do Valongo, fazem parte: o Cemitério dos Pretos Novos, o Largo do Depósito, o Jardim do Valongo, a Pedra do Sal e o Centro Cultural José Bonifácio – que também será inaugurado nesta quarta-feira. No Cemitério dos Pretos Novos, a Unesco também descerrou uma placa e também considerou o local na Rota dos Escravos.

O chefe da Seção de Diálogo Intercultural da Unesco e diretor do Projeto Rota do Escravo, Ali Moussa Ive, reconheceu a importância do Cais do Valongo e a iniciativa da Prefeitura do Rio.

“O Projeto Rota do Escravo está fixando pela primeira vez no mundo uma placa reconhecendo um local como patrimônio da memória da diáspora africana. É um momento muito importante. Estou muito contente e honrado pela visibilidade e destaque que a cidade do Rio de Janeiro está dando ao Cais do Valongo, um dos mais importantes locais de memória da diáspora africana e do tráfego de africanos escravizados. A placa significa, sobretudo, uma abertura de diálogo e de compreensão sobre a resistência, a liberdade e a herança da cultura africana nas Américas”, destacou Ali.

“No Porto Maravilha, pensamos no futuro e resgatamos o passado a todo o momento. Ao mesmo tempo em que estamos preparando uma área totalmente reurbanizada, o passado deste lugar – especialmente da cultura negra – aparece com todo vigor. O Rio de Janeiro tem muito orgulho das nossas raízes e dos nossos antepassados negros. Por isso, queremos que o Cais do Valongo e o Circuito da Herança Africana sejam reconhecidos como Patrimônio Mundial pela Unesco”, destacou Washington Fajardo, presidente do IRPH, que não estava presente no evento, mas enviou sua mensagem através da coordenadora do IRPH, Laura di Blasi, que o representou.

Representante brasileiro do Comitê da Unesco, o antropólogo e fotógrafo Milton Guran explicou como será o processo da sugestão de lançamento da candidatura do sítio arqueológico do Cais do Valongo como patrimônio mundial.

“Precisamos que o Iphan faça o tombamento do Cais do Valongo, o que já está em processo de estudo. Tomabado, o Cais entrará na linha de indicação para Patrimônio da Humanidade da Unesco. Isso demora mais ou menos um ano. Estamos correndo contra o tempo para dar esse presente ao Rio de Janeiro no seu aniversário de 450 anos, em 2015. Em 20 ou 30 anos esse local será tão visitado quanto o Pão de Açúcar. A cidade do Rio de Janeiro, ao longo dos quase quatro séculos de escravidão, recebeu sozinha cerca de 20% de todos os africanos escravizados que chegaram vivos nas Américas. Isso faz da cidade e do Cais do Valongo uma referência do que foi a maior transferência forçada de população na história da humanidade. E, junto com tudo isso, vieram a cultura e os valor”, explicou Guran.

O Cais do Valongo, situado na Av. Barão de Tefé, faz parte do Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana. Após o início das obras do Porto Maravilha, estudos e escavações arqueológicas trouxeram à tona a importância histórica e cultural da Região Portuária para a compreensão do processo da diáspora africana e da formação da sociedade brasileira.

O Cais do Valongo foi construído em 1811 para o desembarque e comércio de africanos escravizados. Em 1843, foi remodelado e rebatizado de Cais da Imperatriz. Em 1911, foi aterrado e deu lugar à Praça do Commercio. Em 2011, durante as obras do Porto Maravilha, o local foi redescoberto, preservado e exposto à população.
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Foto:  João Paulo Engelbrecht