O cancelamento das tradicionais festas juninas este ano no Nordeste deve resultar em um prejuízo estimado em R$ 1 bilhão aos estados da região. E isso considerando-se somente as grandes festas de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Bahia. Mas o impacto é muito maior, somando-se a elas os inúmeros arraiás nas pequenas e médias cidades nordestinas. Caruaru (PE) e Campina Grande (PB), que têm as duas festas de São João mais famosas do país, deixaram de movimentar, juntas, R$ 400 milhões durante o período junino. Em Mossoró (RN), a festa previa uma movimentação de R$ 94 milhões, impacto frustrado pela pandemia.
Mas não só as festas em si ficaram na saudade este ano. Todo o ciclo junino impacta uma cadeia produtiva que inclui pratos típicos, licor artesanal, fogos de artifício, transporte aéreo, rodoviário, hotelaria, aluguel por temporada e todo tipo de prestação de serviço comum à atividade turística, de guias a garçons e muitos trabalhadores temporários.
Em 2019, as prefeituras baianas investiram cerca de R$ 190 milhões em serviços relacionados às festas, como a montagem de estruturas, atividades culturais e contratação de artistas. E as 60 maiores festas privadas de São João, São Pedro e Santo Antônio arrecadaram cerca de R$ 110 milhões e atraíram cerca de 500 mil pessoas.
“Existe toda uma cadeia produtiva que foi interrompida. Não é só o dinheiro que deixa de circular, mas todos os negócios que deixam de ser gerados”, avalia o economista Gustavo Pessoti, diretor de indicadores da SEI, órgão de estudos econômicos e sociais ligado à secretaria do Planejamento da Bahia.
Ele destaca que, levando em conta o tamanho da economia da Bahia, o impacto econômico do cancelamento da festa não é representativo. A perda total estimada representaria cerca de 1% de Produto Interno Bruto estadual. Por outro lado, entretanto, ele diz que há uma perda enorme do ponto de vista cultural, turístico e de geração de empregos. A Bahia costuma gerar entre 40 mil e 50 mil postos de trabalho temporários no mês de junho.
Além dos setores de turismo e entretenimento, segmentos como o de alimentos e bebidas também tendem a ser impactados com o cancelamento da festa. Em resumo, todos perdem dinheiro na pandemia, não apenas os que causam preocupação ao governo federal, os grandes empresários que pressionam pela retomada da economia. Mas no mundo mágico das festas católicas mais tradicionais, resta acatar as medidas de contenção da pandemia e buscar fontes alternativas de renda para sobreviver. A esperança é vencer o vírus e fazer as festas em outra data, como propõem as principais cidades nordestinas.