Moradores das periferias e vilas da região norte de Belo Horizonte sofrem com a falta de água potável e saneamento básico para manterem as condições de higiene, exigidas na prevenção contra o coronavírus. Esta realidade não é recente como também não é regional. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até 2019, 31,7% dos brasileiros não possuíam domicílio com esgotamento sanitário. Só na cidade mineira de Ribeirão das Neves, esse número corresponde a 25,97% da população de 335 mil habitantes. Na capital, os habitantes sem rede de tratamento de esgoto somam 3,8%.
Na divisa entre a capital mineira e o município de Ribeirão das Neves, a situação é igual. Na Rua Radialista José Baluarte, do bairro Céu Azul, onde residem 23.793 pessoas, de acordo com a pesquisa do último Censo, existe um esgoto a céu aberto que, além do mau cheiro, já foi causa de vários acidentes com motoristas.
Marcos Tadeu, de 57 anos, padeiro e líder comunitário da Vila Bispo de Maura, em Ribeirão das Neves, diz que o esgoto nas ruas da favela inviabiliza qualquer protocolo de limpeza: “A população não acredita mais nas autoridades. Eles não têm nem o pensamento de que um dia isso vai ter um fim”, desabafa. Já Edilson Santos, de 38 anos, jardineiro e morador do lugar há mais de 30 anos, afirma que o descaso é antigo e a Covid-19 é só mais uma das dezenas de doenças que a má higiene causa.
Outro morador da região, Roney Rodrigues, de 40 anos e eletricista, lembra que é natural ouvir promessas dos candidatos à eleição sobre a regularização do saneamento do local. “A gente escuta, concorda e aceita quando eles falam que vão limpar toda essa sujeira, mas a gente tem certeza de que é mentira e vai levando a vida assim mesmo”, desabafa.
William Dias, 31, fundador do Espaço Cultural Amargem, na Vila Bispo de Maura, conta que durante a pandemia alguns esgotos estouraram pelas ruas. Para completar, falta água constantemente e a maioria dos seus vizinhos não tem caixas d’água. Segundo ele, as casas mais altas ficam sem abastecimento porque a água não tem pressão suficiente para subir. “A falta de água é corrente. Dizem pra lavarmos a mão o tempo todo, mas se fizermos isso não tem água pra beber. Pode parecer que estou aumentando, mas não, essa é a verdade”, relata.
Segundo Cleidson Brandão, 33, presidente da Associação de Moradores do Bairro Metropolitano em Ribeirão das Neves (ASMOBAM), a falta d’água é comum, especialmente nos finais de semana. Ele reclama que na comunidade há trabalhadores que não pararam por causa do coronavírus, inclusive enfermeiros que precisam lavar os uniformes. Ele acrescenta que tem esgoto no meio do caminho de idosos e pessoas com mobilidade reduzida, aumentando o risco de infecção. Ele explica que a população da vila registra constantes protocolos de reclamações junto aos órgãos públicos, mas não recebe nenhum retorno. Um dos moradores protesta: “Numa pandemia dessa ficar dez dias sem água? Disseram que estava chegando”.
Questionados sobre o incômodo da falta de saneamento básico e água, requisitos mínimos para afastar o risco de contaminação pelo novo coronavírus, a resposta é comum entre todos das favelas, como um eco: “já estamos acostumados”.
A Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) informa que toda a rua Radialista José Baluarte, no bairro Céu Azul, em Belo Horizonte, é dotada de redes coletoras de esgoto. Segundo a Copasa, o problema no local são imóveis não estão conectados ao sistema de esgotamento sanitário, que lançam o esgoto nas galerias pluviais, nas vias, ou mesmo nos cursos d’água da região. Sobre a Vila Bispo de Maura em Neves, a empresa alega que não há registro da vila no sistema. Já em relação ao bairro Metropolitano, a Companhia declara que o abastecimento já está sendo normalizado e que o problema no local foi decorrente a uma pane no sistema de bombeamento. A situação foi solucionada na sexta-feira passada.
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