Cerca de vinte jornalistas foram agredidos ou feridos no decorrer dos quinze dias de protestos contra o aumento do preço dos transportes e o mau estado dos serviços públicos. Embora a maior parte dessas agressões, por vezes acompanhadas de detenções, tenha sido cometida por policiais militares, alguns manifestantes também se mostraram hostis a jornalistas que cobriam os protestos. A amplificação do movimento, alimentado pelas redes sociais, também expandiu suas reivindicações, entre as quais figura o questionamento do modelo mediático dominante.

“A crítica da mídia e de sua cobertura dos acontecimentos é válida. Porém, tal não justifica demonstrações de ódio contra repórteres e ainda menos ataques à sua integridade física. Em sua tentativa de estimular um debate público, no qual se inclui também a relação entre os cidadãos e o espaço mediático, a contestação deve evitar comportamentos perigosos para o exercício das liberdades públicas. O direito de informar, à semelhança do direito de manifestar, é garantido pela Constituição democrática de 1988. Os jornalistas devem poder cobrir o movimento sem receio de violência”, declara Repórteres sem Fronteiras.

Após a relativa calma do dia 17 de junho de 2013, os confrontos entre manifestantes e forças da ordem se reacenderam no dia seguinte, sobretudo no Rio de Janeiro e em São Paulo. Isto apesar da suspensão do aumento das passagens dos transportes públicos, que desencadeara os protestos.

Em São Paulo, Caco Barcellos, da TV Globo (pertencente ao grupo do mesmo nome, o mais importante do país), foi vítima das represálias de uma centena de manifestantes, que tentaram expulsá-lo da marcha chamando-o de “manipulador”, segundo a Agência France Presse. Pouco depois, nas imediações da prefeitura da cidade, um grupo de manifestantes radicais atingiu à pedrada uma van da TV Record (segundo canal mais visto do país). O veículo acabou sendo incendiado após seus passageiros terem saído. Por fim, no mesmo dia, Rita Lisauskas, daTV Bandeirantes, levou com um jato de vinagre no rosto, enquanto se ouviam palavras de ordem contra os principais meios de comunicação nacionais, considerados “parciais” e “sensacionalistas”. Por precaução, alguns jornalistas decidiram deixar de mostrar o logotipo de seu meio.

Apesar dos apelos à calma e da mobilização de vários sindicatos e organizações brasileiras e internacionais de defesa da liberdade de informação, as violências contra jornalistas imputáveis às forças da ordem continuam sendo frequentes. Em Niterói, perto do Rio de Janeiro, na noite de dia 19 de junho, Vladimir Platonow, daAgência Brasil, foi espancado com cassetetes juntamente com vários manifestantes por seguranças privados da estação de comboios local, ao tentar escapar a uma investida da tropa de choque da Polícia Militar (PM). Ainda em Niterói, no mesmo dia, o cinegrafista Murilo Azevedo, do grupo público Empresa Brasil de Comunicação (da qual faz parte Agência Brasil), foi ferido por uma granada de gás lacrimogêneo da PM. Por fim, na noite de dia 20 de junho, em frente à prefeitura do Rio, uma bala de borracha disparada por um policial feriu a testa do jornalista Pedro Vedova, de Globonews, canal de notícias 24 horas do grupo Globo.

Fonte:  Repórteres Sem Fronteira

Repórteres Sem Fronteira
Foto: André Fernandes