Autora: Neuza Maria Sant’ Anna de Oliveira – UERJ.

Co-autoras: Letícia da Silveira Espindula e Thaiana de Assis Santana – UERJ

 

Neste trabalho apresentaremos a “Literatura Marginal”, denominação da produção literária dos escritores oriundos das regiões periféricas, e sua importância na quebra do paradigma que aponta a falta de capital cultural como causa do fracasso escolar.

          De acordo com o paradigma do fracasso escolar, relacionado à teoria do capital cultural de Bourdieu, a “falta” de capital cultural leva um aluno ao fracasso na escola, ou seja, um filho da classe dominante tem maior probabilidade de ter sucesso escolar do que um filho de um operário.

          Segundo LAJOLO literatura não pode ser definida, já que existem vários conceitos sobre esta arte. Isso pode ser comprovado quando em seu livro O que é Literatura, onde a autora se utiliza do dicionário Aurélio para definir o que é literatura. Neste aparecem dez significados para o termo e, por isso, utilizamos o conceito mais comum, que define a literatura como tudo o que se escreve. Ainda, segundo o dicionário, esta palavra se deriva do termo em latim littera, que significa letra.

          Já a palavra marginal possui um sentido de ambivalência, pois essa palavra é utilizada juridicamente para designar aquele sujeito que vive no mundo do crime, delinqüente, indolente e perigoso. Em outro sentido, é utilizada sociologicamente para designar aquelas pessoas que são vitimadas pela marginalização da sociedade, como pobres, desempregados, migrantes entre outros.

          O termo “Literatura Marginal” surgiu na década de 70 num cenário político bastante conturbado em nosso país. Vivíamos um período de ditadura militar e, como forma de subversão a ordem, um grupo de intelectuais escreviam poemas em folhas mimeografadas e distribuíam por lugares de convívio comuns, como bares, cinemas entre outros. Os textos produzidos nesta época eram “marcados pela irônia, pelo uso da linguagem coloquial e do palavrão e versavam sobre sexo, tóxico e principalmente do cotidiano das classes dominantes”.  Tais escritores eram de classes media alta e estudantes universitários, sobretudo, esse movimento se concentrava basicamente na cidade do Rio de Janeiro. (NASCIMENTO, 2006:14-14).

 

Por que trabalhar com “Literatura Marginal” em nossas salas de aula?

 

          Em depoimentos de alunos que não tiveram êxito na vida escolar sempre ouvimos dizer que eles não compreendiam o que a escola falava. È fato que a escola não fala a língua dos nossos alunos e nós professores estamos sempre reproduzindo o sistema vigente e, conseqüentemente, perdemos mais crianças a cada ano.

          Isso ocorre por causa de uma questão aparentemente simples, a escola não respeita as diversidades culturais que nossas crianças trazem e com isso sempre repetimos os mesmos “erros”. Marginalizamos a cultura de nossos alunos, logo, produzimos o fracasso, ou seja, o fracasso não se dá pela falta de capital cultural, já que não lhes faltam cultura, e sim pelo desrespeito a diversidade cultural.

          Uma atitude que podemos tomar para mudar esse quadro é fazer a escola falar a língua dos alunos, utilizando os textos da “Literatura Marginal”, que, por sinal, são riquíssimos. Com eles podemos trabalhar vários conceitos e, mais importante ainda, os alunos irão se identificar com a escrita e com as histórias e se verão refletidos nela, já que vivenciam tudo aquilo que os textos trazem.

          A escola como instituição social tem o dever de reparar todos os danos que a nossa sociedade fez e ainda faz com os menos favorecidos economicamente, discriminando-os e rejeitando-os. Ferréz no editorial do site Caros Amigos expressa essa vontade de fazer literatura para que a sociedade lembre que a periferia faz arte e de ótima qualidade. 

Outra coisa também é certa: mentirão no futuro, esconderão e queimarão tudo o que prove que um dia a periferia fez arte. Jogando contra a massificação que domina e aliena cada vez mais os assim chamados por eles de “excluídos sociais” e para nos certificar de que o povo da periferia/favela/gueto tenha sua colocação na história e não fique mais quinhentos anos jogado no limbo cultural de um país que tem nojo de sua própria cultura, o Caros Amigos/Literatura Marginal vem para representar a cultura autêntica de um povo composto de minorias, mas em seu todo uma maioria.(FERRÉZ, 2008)

 

          Quando respeitamos a diversidade cultural presente em nossa sociedade, ajudamos a diminuir os altos índices do fracasso escolar presente no nosso cotidiano. Assim, não queremos aqui de maneira nenhuma negar os clássicos literários, mas sim apresentar um novo estilo de literatura que surge como uma proposta pedagógica fundamental para que possamos formar leitores proficientes[1] e não apenas continuarmos formando analfabetos funcionais[2]. Acreditamos que este é um dos caminhos possíveis para enriquecer o processo de ensino-aprendizagem e possibilitar o sucesso dos nossos alunos.



[1] É aquele que se utiliza da leitura e da escrita com perfeição

[2] É aquele que sabe ler, mas não compreende o que leu.