No dia 31 de outubro os moradores da São Remo acordaram assustados com o barulho dos tiros na madrugada. Por volta das 5 horas da manhã, policiais da Rota, GOE, Força Tática, invadiram a favela com a justificativa de que havia uma operação para prender o responsável pela morte de um policial da ROTA mês passado. Os policiais ocuparam a favela com cerca de 200 homens que invadiram as casas, quebrando móveis e agredindo moradores. Sou professora da Rede Estadual e leciono na EE Daniel Pontes, que fica na Av. Rio Pequeno e atende à grande maioria das crianças e jovens moradores da São Remo e também outras favelas da região. Os alunos na manhã dessa quarta feira estavam agitados e assustados com a situação da São Remo. Muitos relataram abusos dos policiais, que tentavam entrar em todas as casas e distribuíam “gerais” nos moradores da rua controlando a entrada e saída de pessoas. Os alunos da escola se mostravam preocupados com a situação e diversas vezes anunciavam que parentes haviam ligado, avisando de tiroteios constantes na favela. Diante da apreensão dos alunos e pela indignação frente à ação da PM, alguns professores se organizaram para acompanhar os alunos até suas casas na São Remo, na saída da aula. Na saída, os alunos se concentraram e fomos em um grupo de 7 professores acompanhando-os até a favela e deixando cada um deles em suas casas. No caminho ficamos o tempo todo sob a mira dos fuzis dos policiais da ROTA, havendo diversos deles com tocas ninjas, sem identificação e com cães farejadores pelas vielas do local. Durante todo o trajeto ouvimos os tiroteios. Os alunos estavam assustados, mas bastante satisfeitos com a iniciativa dos professores em levá-los até suas casas. No caminho conversamos com parentes, amigos, encontramos mais alunos e presenciamos o medo e a apreensão dos moradores, poucos que estavam na rua, diante da repressão policial. Nós acompanhamos nossos alunos até suas casas não somente para sua segurança, mas para mostrar que não vamos nos calar diante da repressão policial que diariamente atinge à juventude negra e pobre das periferias, da qual nossos alunos são parte. A mídia burguesa anuncia todos os dias com muito pesar a morte de pm’s, mas se cala diante das milhares de mortes de jovens negros que lavam de sangue as ruas das periferias de todo o Brasil. Há algumas semanas atrás perdemos um ex-aluno da EE Daniel Pontes, de 15 anos, morto com um tiro nas costas pela Polícia dentro da São Remo. Nos solidarizamos com os moradores da Favela São Remo que foi ocupado pela ROTA e estaremos lado a lado dos trabalhadores e da juventude da periferia contra o genocídio, pelo qual é responsável a polícia assassina!

Por J., professora da rede estadual e militante da Juventude Às Ruas