Alguns acham que estudar é um trabalho não remunerado; outros acham que estudar tem que ser um prazer; há quem diga que o conhecimento do estudante amplia os horizontes do mundo; uns acham que o mundo molda o estudante; outros, que estudar é para além de provas, é para a vida; e tem quem acredite que a vida não é só estudar. Mas o que todos concordam é que ser estudante é mais difícil do que parece e que essa profissão (sim, é uma profissão reconhecida) deve ser mais valorizada, porque trata de futuros e, mais do que isso, de sonhos. Sonhos de mães e de pais que viram seus filhos crescendo, estudando e transformando, se não o mundo inteiro, pelo menos as coisas ao seu redor; sonhos de meninas e de meninos que queriam, desde pequenos, ser astronautas, geógrafos, sociólogos, professores; sonhos de uma nação que quer crescer mais justa e consciente. Mas importante mesmo – tanto que foi constatado por Aristóteles há muito tempo – é que se obtenha conhecimento para alcançar a felicidade, saindo do senso comum (doxa, em grego) rumo à identidade própria (ethos), deixando, assim, algo de diferente no mundo, já que a vida, ao mesmo tempo em que é curta, é longa demais para sermos só mais um.
A ANF conversou com Bruno Odachan, vestibulando que estudou numa escola estadual do Rio de Janeiro e chegou a ingressar na UFRJ, mas teve que abandonar o curso por falta de condições financeiras para manter-se ali.
Para Bruno, a dificuldade para o favelado já começa na educação básica. “A gente não recebe o mesmo ensino que o rico pode pagar. Isso reflete no ENEM e acaba não sendo tão justo quanto deveria ser. As cotas são importantes por isso e, mesmo assim, tem gente que não entende”.
Ele entrou na UFRJ em 2016, no curso de História da Arte, mas não conseguiu arcar com as despesas que o curso exigia e ficou um semestre vivendo o sonho, que acabou sendo interrompido. A estrutura da faculdade também não contribuiu. O prédio da reitoria, onde Bruno assistia às aulas, pegou fogo. Hoje, ele busca uma vaga no curso de Jornalismo também na UFRJ.
Bruno conta que a mãe dele ficou chateada quando ele teve que largar o curso. “Ela ficou bem chateada porque eu tive que largar um emprego para começar a faculdade e acabei não concluindo”. Isso exemplifica a realidade de muitos universitários brasileiros. Grande parte deles se desdobra entre trabalho e estudos e acabam não conseguindo conciliar os dois, já que ambos exigem tempo e dedicação. Sobre a educação básica, Bruno acha que as coisas até pioraram em relação à época em que ele estudava em escola estadual. “Não existe projeto cultural na escola e o pior de tudo é que a gente não aprende o básico, o que prejudica a gente lá na frente. Quem estuda em escola particular tem uma vantagem muito grande”.
Bruno ainda enfrenta um problema que tem ganhado cada vez mais destaque principalmente entre vestibulandos e universitários: os problemas psicológicos. Muitos pais, parentes e a própria sociedade impõem sobre o estudante uma pressão muito grande, como se estudar fosse fácil e o aluno fosse obrigado a ir bem em todas as disciplinas. Por isso, é essencial que a família e os amigos apoiem o estudante e o compreendam.