O projeto “Escada do Amor”, realizado no Complexo do Alemão, é uma das ideias que fazem parte da exposição internacional Designing Respect, em cartaz no Museu do Amanhã até 23 de outubro. A mostra é resultado do concurso de mesmo nome que selecionou 14 projetos que relacionados ao conceito de respeito na cidade do Rio. Cinco deles foram criados para aplicação em favelas.
Através da iniciativa de um grupo multidisciplinar formado pelas equipes do Permanências e Destruições, Instituto Raízes em Movimento, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ e Matéria Base, a Escada do Amor tentou resolver um problema antigo da Travessa Laurinda, faixa não urbanizada que vai do topo do Morro do Alemão à divisa com Olaria. A travessa é o único acesso de muitos moradores às suas casas e apresenta grandes riscos. Apesar disso, nunca foi contemplada com infraestrutura ou serviços públicos. “Apenas uma grande obra de infraestrutura sanaria tantos riscos, mas, enquanto não houver planejamento urbano na Laurinda, como previsto no PAC Alemão, os moradores continuarão sofrendo com a precariedade”, explica João Quintella, um dos participantes do projeto.
No Dia dos Namorados, foi construída uma escada que facilitasse a mobilidade local na Travessa Laurinda. Mutirões foram organizados nos fins de semana com a ajuda dos próprios moradores. O material da construção foi comprado no pé do morro e transformado em escada, ponte e corrimão, gerando renda inclusive para a economia local. “A população da Travessa foi muito atuante nos mutirões: crianças ávidas por virar massa e se lambuzar no concreto, os mais velhos carregando cimento e fazendo churrasco. A escada foi apenas o primeiro passo para melhorar o espaço público”, complementa Quintella.
Desenvolvido pela ONG britânica Theatrum Mundi, o concurso de design thinking Designing Respect recebeu 64 projetos entre julho e setembro que buscavam promover de maneira prática o combate a situações de desrespeito no Rio, em áreas como habitação, cultura e direitos humanos. Artistas, urbanistas, ativistas e cidadãos participaram da competição. Os projetos foram selecionados pelos próprios participantes, com o aval de um corpo de jurados formado por nomes como Gringo Cardia, Marcus Faustini, Jailson de Souza e Silva, Marcelo Dughettu, Deborah Colker, Paul Heritage e Adam Kaasa. Os 11 projetos da seleção oficial receberam 300 libras como premiação, além da participação na exposição.
A mostra Designing Respect conta ainda com a menção honrosa a três projetos realizados pela escola sem fins lucrativos Spectaculu, da Zona Portuária, que ganhou um concurso especial, exclusivo para seus alunos. Os autores, jovens de baixa renda de diversos bairros e comunidades do Rio, vão apresentar seus projetos em um simpósio da Theatrum Mundi, realizado em fevereiro na cidade de Paris.
Concurso selecionou cinco projetos relacionados a favela
Além da Escada do Amor, a mostra apresenta quatro outras ideias para a favela, criadas por jovens da periferia. “Museu de Arte Urbana do Chapadão”, de Marjan Sodré da Fonseca Rosa, e “Escola de Cinema da Vila Kennedy”, de Ana Clara, Cassiane e Vladimir de Mello Santana Junior, pretendem ocupar espaços abandonados há anos nas comunidades: a Biblioteca do CIEP Raul Seixas e o Centro Vocacional Tecnológico da Faetec (mostrado pelo Jornal A Voz da Favela na edição de Setembro de 2016).
“Proteção para cidadãos de bem ou de bens”, de Joyce Leiliane Mendes, aborda a cerca que separa a Maré da Linha Vermelha e que há anos é acusada de ser utilizada pelo poder público para esconder a comunidade, principalmente, de quem vem do Aeroporto Internacional Tom Jobim. Já “Favela barroca”, de Katianne Berquiolli, Lecticia Barros, Valdemar Candido Vargas e Hyan Victor Costa Cantanhede, busca desenvolver uma instalação artística inspirada em uma típica casa de favela.
A Escada do Amor é o único dos cinco projetos que já foi executado.
Serviço:
Exposição Designing Respect
Data: Até 23 de outubro de 2016 (terça a domingo, de 10h às 18h)
Local: Museu do Amanhã (Praça Mauá, Centro, Rio de Janeiro)
Preço: R$10 (inteira); R$5 (meia)